Não gosto de dias escuros, são assim como fotos a preto e branco com retoques de sépia mas de imagens colhidas em locais frios e húmidos com gente triste dentro. Triste de fome, de falta de vida, triste de só, sem trabalho, sem dinheiro, sem comida,... sem vida,... como os livros de Emile Zola ou os Miseráveis de Victor Hugo.
Não gosto de dias escuros... fazem-me lembrar os quartos dos amantes onde de tristeza não se abriram as janelas... Não que se guarde dos olhos do dia o amor ou a paixão, antes se esconde o frio de uma cama vazia, já feita e que não se desfez e todo o sol preso do lado de fora que nem as frestas das janelas de tinta estalada deixam entrar.
São como uma foto de Tarkovsky... Têm tudo dentro e, no entanto, se olharmos cai-nos a tristeza em cima.
Arrepia-nos a alma e deixa-nos pensativos a ver se percebemos porque não se deixa entrar o Sol. Esmaga-nos o peito... até os ombros dos homens não têm Sol...
Não gosto de dias escuros, chuvosos, lentos peganhentos, que se arrastam pelas paredes, pelos campos... como um cão que permanece ao pé do dono e não entende se ele já está morto se apenas desistiu de se mover.
Não gosto.... e gosto.... Olho o ar em volta como se houvesse uma história por contar em cada neblina, em cada som envolto em nevoeiro, em cada nuvem que teima em pendurar-se dentro de mim como um morcego sonolento...
Nos dias escuros há paredes bafientas e janelas de tinta estalada, há homens de ombros caídos e sinto-lhes no rosto aqueles que os fizeram infelizes... e vejo-lhes os olhos que só enxergam o chão e não olham de frente... quietos, sonâmbulos, ...como uma cama vazia, já feita e que não se desfez e todo o sol preso do lado de fora que nem as frestas das janelas de tinta estalada deixam entrar.
25.10.2015
ACCB