Ecoa melhor quando a luz estremece na tarde e não há sons porque tudo se aquietou com o calor que sufoca.
Se for à beira do rio Nilo chama-te os olhos para a água, como se bebessem cada entoação.É tão estranho o arrepio ainda que o dia não tenha sequer espaço para arrepios.
Tem horas para se fazer ouvir mas surpreende sempre, com o tom poderoso de cada uma das 5 vezes que acontece...pelo alvorecer, ao meio-dia com o Sol no seu ponto máximo, entre o meio-dia e o pôr do sol e logo após o pôr do sol mas antes da meia noite.
A que mais me toca é sempre a que é feita antes do pôr do sol... afinal nós também olhamos essa hora como uma glorificação a mais um dia de Vida embalados na Esperança de que outro dia nascerá ... deve haver uma conjugação de energias para que essa hora seja mais sagrada...
Não sei antes dos megafones como era mas, devia passar-se de boca em boca como um pássaro que chama para seguir rumo ao sul.
Antes da chamada o ritual da purificação que a água percorre transparente pelas mãos e braços, pelos pés, pela cabeça e rosto....pela boca.
E ajoelhar na direção que só eles sabem e nós tentamos entender.
Não importa se não professo a mesma religião...
Nao importa se não falo a mesma língua...(que imensa torre de babel somos...), nem me importa as palavras que proferem que podem até não me dizer nada.
É o tom que é apelativo, como uma contemplação, uma união de vontades, um parar na vertigem do dia para nos reencontrarmos.
A voz tem o apelo poderoso da oração ... e qualquer oração/contemplação, em qualquer ponto do planeta ( no Tibete,...em Israel... num templo,...à beira de um rio, em frente ao mar,... descalços, sentados de pernas cruzadas,... em silêncio, de olhos fechados,), tem o poder de unir.
Que bom, que um dia, uma Voz nos sintonizasse a todos, pela mesma hora ainda que o Sol nasça e se ponha em horas diferentes nos pontos diferentes de onde o olhamos.
Que bom, que um dia, uma Voz nos dissesse que unidos no mesmo sentido independentemente das nossas crenças e vontades. somos mais fortes, mais unos, menos belicosos e com Dignidade coexistimos.
Porque nós não nos subjugamos, nós coexistimos. É o que a Dignidade nos impõe...
5 Setembro 2020