TRADUTOR DE CHUVAS
Um lenço branco
apaga o céu.
A fala da asa
vai traduzindo chuvas:
não há adeus
no idioma das aves.
O mundo voa
E apenas o poeta
Faz companhia ao chão.
Mia Couto
Em Moçambique podia acontecer muita coisa, bombardeamentos, queda de aviões e sobreviventes portugueses, ou mortos, ou mutilados, ou traumatizados.....
Em Moçambique a natureza tem as mesmas regras que tem no resto planeta, nenhumas.
As chuvas vieram como na Índia e alagaram todas as esperanças
Pergunto-me se a costa do murmúrios não era aquilo tudo mas mais contido, algo que destruía quase tudo mas que não perturbava a regata do clube náutico que estava marcada.
Só faltava a linha do horizonte cheia de flamingos que de tão inocentes não percebiam que ao lado alguns já tinham sido abatidos.
Faltava o som do Jazz para amenizar a desgraça. Os temporais não eram todos pelo fim da tarde quando a terra pedia paz ao calor implacável do dia.
Tudo andava alterado dizia a avó que ficara e viera de Portugal. É assim porque os homens não percebem das regras da natureza e não sabem viver com pouco.
E não sabem.
Vivem em guerras e competições como se as almas lhes pedissem confronto constante e nada mais houvesse para fazer em dias de sol ou de chuva, de fome ou doença, de triunfos e descobertas, nada mais que não fosse lutar com os outros e com a sua própria espécie.
Perguntava-se muitas vezes onde ía ela buscar a sabedoria para saber dos homens esses seres soturnos e fechados sem nada para contar, ela que tudo dirigia e que lia as almas com os olhos.
Lembrava-se que todas as mulheres lhe perguntavam como fazer e vinham passar tardes a sua casa para falarem delas e das lágrimas que lhes corriam pelos olhos às vezes horas a fio e em silêncios de sala com uma chávena de chá em frente. Levavam os bolinhos que ela tinha feito de manhã, era para aconchegar a alma dizia a avó.
Os homens queimam os barcos para aumentarem o preço do petróleo, matam os outros homens para venderem as armas, escondem fórmulas em laboratórios e não entregam a cura para os males do corpo, para venderem medicamentos ... ...
Lembra-se de à noite a ouvir rezar, todos os dias ainda que sobre a casa se abatesse a maior canícula ou o mais aterrador silêncio. Termina tudo com um Ámen como se depois de formular a prece se conformasse com tudo forte e silenciosa, sempre com a solução nos olhos.
Um dia perguntei-lhe porque rezava tanto, se era só ali que o fazia, se sempre o fizera.
Respondeu-me que sempre o fizera, nada havia de diferente ali que em Moçambique como no Sudão, a natureza tem as mesmas regras que tem no resto planeta, nenhumas.
E os homens eram iguais em todo o planeta, nada percebiam das regras da natureza e só queriam possuir tudo e ser possuidores, lutar....morrer,...matar.
Pensei muitas vezes que ...talvez não pertencessem à natureza....ou a natureza os estivesse a perder para as regras dos homens.
Escrito num Junho de 2019 a seguir às chuvas em Moçambique, e ao ataque de Abril no Sudão
Adelina Barradas de Oliveira
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