
Só às 3 da manhã apaguei a luz
Era uma paz justissima a que se ouvia na rua, só tocada pelo cantar de um rouxinol que tornava tudo mais inclinado,...a minha ida com o cão à rua e o regresso depois de um curto passeio.
Pensei que nunca saboreava aquele som e o que era estar ouvi-lo, precioso como o do rouxinol da Florbela Espanca. E pensei que chegava a casa e iniciava a escrita de um livro, era agora ou nunca, como se o canto do pássaro no silêncio quieto da noite me dissesse que deveria saborear a minha paz e escrever sobre a guerra
Uma guerra a milhares de kms mas no mesmo planeta, com seres da mesma espécie, sangue nas veias e nas guelras....na guelra,...era na guelra....
Uma imagem de carnificina veio-me à ideia e o silêncio da noite com pássaro ao fundo chamou-me de novo
Sabia que se não começasse o livro agora, já não o faria Eram sempre assim os meus adiamentos ....
E ficava sempre para depois, como o Antonio que queria ir a Gôa antes de morrer mas morreu, sem dar por isso, ...sentado ...num sábado à noite...com tantos escritos na gaveta ....
Olhei o relógio
Já devia dormir... dormir com as ideias em sobressalto e as notícias a chegarem no tm, lá de longe do frio ..da morte, ..da coragem...do teatro de marionetes....
Frágeis, todos frágeis , mortos a tiro ou de sono, todos frágeis....um laboratório perfeito rasgado em segundos por estilhaços ... para nada.
Sabia que fecharia os olhos derrotada pelo cansaço e de repente seria dia...
O pássaro teria ido dormir e eu levantar-me-ía formiguinha incansável com alma de cigarra ...
Já me habituara à rotina que contornava com Dead lines, ....Seca!!!!