Choveu todo o santo dia. Choveu não copiosamente como quem chora ou como quem esquece o duche quente aberto.
Choveu teimosamente, insistentemente, de forma fina e constante, como uma agulha, sem vento, sempre em linha recta como um poema enorme e de leitura incansável.
Ainda chove, as luzinhas dos faróis salpicadas de gotas parecem pedrinhas preciosas, sonhos de Natal.
Mas é Janeiro e está frio. Não esteve muito frio durante o dia.... mas a noite promete arrefecer.
Reparei que já não há chapéus de chuva coloridos e daqueles que duram muito, que se levam ao Sr José da loja pequenina ao pé da Igreja ou se entregam num repente ao "amolador" que anuncia na rua que arranja tudo, chapes de chuva e respectivas varetas.
Isto de andar à chuva e sentir os pés quentes dentro das botas,as pernas quentes dentro das calças, as costas quentes dentro do impermeável, é uma aventura.... como quando se é criança e há lagos de água para saltar para dentro.
Choveu todo o dia. Devia haver uma forma de ver chover toda a noite.
21.1.2016
____________José Luís Outono
Ainda no outro dia, vi um amolador...e o som típico do instrumento publicitário, que os anunciava.
São estes momentos, que nos fazem recuar e indagar, como vivemos com tão pouco e sorrimos tanto no viver. Questiono amiúde se a tecnologia ou a energia da pressa para ontem, são motivos de desenvolvimento?
Hoje, vi chover, e os pingos contavam histórias tão alegres, apesar do incómodo da chuva. Quantas vezes, não brincávamos entre o mar invernoso e a calma outonal, com os pingos de um chafariz, para simular uma frescura caminhante de sonhos.
Lembro-me da primeira chamada de um telemóvel...e perguntei, como é que isto leva e traz a voz. E a resposta estava tão perto, na rotação da terra, no anoitecer e no amanhecer e no viver calmo...e tudo acontecia. Hoje, ainda não percebi bem, como vivemos amanhã, com o prognóstico de ontem, e dizemos está tudo no computador. Por este andar, um dia vou receber uma SMS, quem sabe via chip cutâneo como cartão de cidadão, a recomendar - acaba o livro hoje, porque amanhã está tudo encerrado para balanço. Sorrio, olho para o pavimento molhado, o reflexo faz-me uma fotografia, e o pensamento codifica-a, no envio cibernético para uma enciclopédia de barras codificadoras do planeta ao lado.
NOTA: Hoje apeteceu-me recuar aos tempos desafiadores da palavra.
__________________Jorge Casaca
Mas cai. De noite a chuva cai. É mais difícil de a ver pontilhada pelos candeeiros da avenida. Mas sabe bem vê-la refletir nos charcos os faróis dos carros parados nos semáforos. Ouve-se. Aquela voz fininha da chuva ouve-se de noite, o algeroz avariado do terceiro andar, o andar molhado dos gatos.
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Adelina Barradas de Oliveira
O Algeroz avariado do terceiro andar, o andar molhado dos gatos, os sapatos de salto alto tardios pela calçada, frios de uma noite solitária e fina como a chuva.
E ficam as janelas salpicadas como sons de cristal.... Se o vento não sopra é tão bom dormir escutando os cabelos da chuva.
Ouve-se tudo,... até a rua que escorre até à ribeira que já foi rio mas está sempre seco de Verão.
____________Jorge Casaca
É como aquele pingar de frio nos óculos a estrelar as luzes. O peso da água nos ombros que se vão molhando. Aquele cheiro da terra levantada gota a gota. De fora as pessoas passam escondidas em capas de cogumelos, sombrias como se fugissem.
________________Adelina Barradas de Oliveira
Hoje não chove e o frio parece pingentes de cristal a cortar os dedos das mãos
Não vou à rua ou vou?
O relógio da torre da igreja continua a dar horas, são 9... Não vou ou vou? Está sol, vai derreter o frio.
__________Jorge Casaca
O sol aquece os vendedores da feira junto à Ria. Foi anteontem, foi anteontem mas podia ter sido no século passado, que os écrans dos televisores embranqueciam com a neve. Aquela que já não caía desde há tanto tempo que as pessoas pensavam que nunca acontecera. Foi ainda ontem que as pessoas se cumprimentavam com um «está tanto frio».
__________________
Adelina Barradas de Oliveira
Subiu a temperatura, poucos graus é verdade, os dedos doem ainda como se fossem gelo. Às vezes parece que os deito no Martini e os provo. Congela-se a palavra.
Fica lá fora aquela luz cristal de sol de Inverno e uma vontade enorme de correr para o Mar.
Não há na que se interponha a não ser o chamamento do trabalho ao fim de semana.
Não é justo. Com este frio até os papéis deviam congelar.
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José Luís Outono
Ontem às 11:24 ·
HÁ "BOCAS" INFERNAIS.
Fui à farmácia comprar um medicamento (normal). A farmacêutica, muito gentil disse-me - Anote por favor como vai medicar-se. Deu-me um papel, emprestou-me a esferográfica e ditou...
Uma jovem "cinquentona", sem mais demoras exclama - Vê-se mesmo que é um velho. Não tem um telemóvel? Clique, ou dite para ele...já viu...está a empatar toda a gente, com a demora da escrita.
Olhei para ela, e disse-lhe em diálogo de olhar azedo, TUDO ... enquanto a farmacêutica lhe recomendava calma.
No regresso a casa, fui "buscar o filme", como realizava emissões de rádio, com discos de vinil e gravadores/reprodutores de fitas magnéticas, e até era permitido fumar nos estúdios (que horror).
De repente, um comentário ( a cabeça ainda funciona) que fiz a um excelente texto de Adelina Lininhacbo Barradas de Oliveira, neste dia 21 de Janeiro, mas do ano passado, assaltou-me a cabeça .
"Ainda no outro dia, vi um amolador...e ouvi o som típico do instrumento publicitário, que os anunciava.
São estes momentos, que nos fazem recuar e indagar, como vivemos com tão pouco e sorrimos tanto no viver. Questiono amiúde se a tecnologia ou a energia da pressa para ontem, são motivos de desenvolvimento?
Hoje, vi chover, e os pingos contavam histórias tão alegres, apesar do incómodo da chuva. Quantas vezes, não brincávamos entre o mar invernoso e a calma outonal, com os pingos de um chafariz, para simular uma frescura caminhante de sonhos.
Lembro-me da primeira chamada de um telemóvel...e perguntei, como é que isto leva e traz a voz. E a resposta estava tão perto, na rotação da terra, no anoitecer e no amanhecer e no viver calmo...e tudo acontecia. Hoje, ainda não percebi bem, como vivemos amanhã, com o prognóstico de ontem, e dizemos está tudo no computador. Por este andar, um dia vou receber uma SMS, quem sabe via chip cutâneo como cartão de cidadão, a recomendar - acaba o livro hoje, porque amanhã está tudo encerrado para balanço. Sorrio, e olho para o pavimento molhado. O reflexo faz-me uma fotografia, e o pensamento codifica-a, no envio cibernético para uma enciclopédia de barras codificadoras do planeta ao lado."
NOTA: Hoje apeteceu-me recuar aos tempos desafiadores da palavra.
JLO
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