"... Não sei se para minha sorte ou para meu azar, o Programa de assistência no Malawi era um programa modelo sob todos os aspectos.
O Governo cooperava em tudo e trabalhava bem, a corrupção era comparativamente pouca e quando algo ia contra a preferência do regime estava implícito que nós tratávamos do assunto de forma a eles poderem fazer de conta que não viam, era um acordo tácito.
As ditaduras têm destas coisas, muitos africanos me disseram ao longo dos anos não ter a certeza se o modelo “democrático” se ajustará à realidade do continente africano, eu também não sei, mas trabalhava-se bem. Por exemplo, as testemunhas de Jeová eram proibidas no Malawi, os nacionais não podiam exercer esta devoção, no entanto nós tínhamos um enorme campo de refugiados com muitos milhares de moçambicanos praticantes que eram tratados como os demais, com a salvaguarda de não deverem “exercer” fora do campo em que residiam visto que parte do seu rito é “testemunharem” passando a palavra e angariando novos adeptos, …pragmatismo no seu melhor, apesar de tudo.
A meu ver o pragmatismo é crucial em quase todos os aspectos da vida e apesar de eu não poder defender qualquer tipo de ditadura, precisamente porque ela me assusta, dou-me por vezes conta de que o mundo civilizado poderá estar a chegar ao ponto em que esse tipo de regime ganhe apelo de novo, como todos sabemos a história repete-se e futuros ditadores jamais fizeram campanha como tal.
Pergunto-me por vezes quanto tempo levará o ocidente democrático a repensar a sua política social e a refinar a sua concepção de tolerância, …será uma condescendente via de sentido único, e como é que isso se traduz em termos de harmonia social, integração e aculturação? Se o país anfitrião se tornar fragmentado, subserviente ou dominado por factores externos, as características que desde logo lhe proporcionaram sucesso e o tornaram atraente não se diluirão ou cessarão de existir?
É lógico que quem já por lá passou eduque quem vem a seguir de forma a não reincidir nos mesmos erros e parece-me também uma expectativa razoável que quando eu vou a casa de alguém me submeta às suas regras, doutra forma ficaria onde estava, os direitos vêm com obrigações e como diz o ditado, a minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro.
Há um balanço precário em tudo isto que seria bom estabelecer a benefício de todos, tanto dos nacionais (que parecem cada vez mais ressentir-se dos estrangeiros, até os escandinavos), como daqueles que procuram melhores condições de vida lá fora. Não estou certa de que a cultura anfitriã se deva erradicar pela raiz, uma coisa é a semântica que nos permite chamar algo por outro nome e pretender tê-la melhorado, outra é a cada vez mais preocupante realidade em que semântica é apenas outra palavra inútil para os mesmos problemas insidiosos borbulhando sob a superfície. Esta foi sempre a minha quezília com o ser politicamente correcto, muito frequentemente concentra-se sobre a forma e negligencia o conteúdo...
...Um terço do mundo pensa assim e dois terços pensam assado, não sei se haverá grande esperança de melhoras e tudo isto é muito perigoso, …até mesmo este raciocínio! ..."
TERESA CUNHA
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