Obedecem-me agora muito menos,
as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram- se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo de artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê - las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?
"O sal da língua [1995]", in Eugénio de Andrade, Poesia, s/l,Fundação Eugénio de Andrade, 2000, pp. 527- 528
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Já estamos no terceiro dia descontado a 365 deste espaço medido a que, decidimos chamar ano e dividir em meses.
Tentei convencer-me a vir aqui fazer, todos os dias, o diário do ano do jubileu, o ano da libertação dos escravos e do perdão de todas as dívidas.
Era assim que os antigos hebreus o viam de 50 em 50 anos.
Encontramos uma primeira ideia disto na Bíblia: o ano jubilar tinha que ser convocada a cada 50 anos, já que era o ano “extra”, a mais, que se vivia cada sete semanas de anos (cf. Lv 25,8-13).
Ainda que fosse difícil de realizar, foi proposto como ocasião para restabelecer uma correta relação com Deus, entre as pessoas e com a criação, e implicava a remissão de dívidas, a restituição de terrenos arrendados e o repouso da terra, a libertação de outros homens e mulheres.
Mas, dizia eu que, queria cumprir este propósito de um diário do ano do jubileu, quem sabe da oportunidade de me libertar e organizar, beber os tais litros ( imensos ) de água, ler mais (daquilo que vale a pena ler ), apanhar sol (ao ar livre de preferência), e … fazer exercício….
Tantos propósitos

Este é o -3 de 365 e a foto é do Primeiro Dia do Ano.
Na verdade não ando muito criativa, nem sequer consigo encadear as palavras de forma leve e empática …
Sei que há momentos na Vida que nos tiram aquele portal da imaginação, da chuva de letras que formam ideias e arrebatam palavras,… e ficamos como que presos nesses momentos, regressamos a eles muitas vezes… não devíamos.
Um dia virá que serão apenas memórias de sorrisos mas agora tiram-me o espaço de ficar sozinha com a escrita, nem sequer consigo isolar-me nela.
Entre uns papéis para organizar, uns cálculos para fazer, projetos para dar forma, hei de, em tantos dias, conseguir .
Amanhã não haverá sol e domingo parece que chove…
Tudo bem, há sempre um livro, um filme e, cá em casa, uma lareira.
Tenham um serão agradável, amanhã é sábado, e durmam o sono dos justos.