A geração que se seguirá a mim, amada até representar a única alegria que a ideia da morte nos pode dar — a de ela nos sobreviver —, é vista por mim com desprendimento.
Mas o amor mais perfeito é desprendimento, e não persuasão.
Não há palavras minhas que eu prefira e aconselhe a guardar.
Tenho dito coisas muito belas, outras insignificantes.
É o que acontece quando se escreve muito, às vezes por motivo dum estado de alma tenso e resolvido a despertar por medo ou piedade. Se não fossem estas duas intenções inefáveis, a obra do maior dos génios reduzia-se a meia dúzia de páginas.
Enfim, é preciso não considerar o mundo como uma vasta biblioteca, um lugar onde a educação da alma se faz apenas por meio da experiência congelada. Não que uma obra grande não seja preciosa. Dá-nos confiança, ajuda-nos a suportar o tédio e a desilusão; embora a maior parte dos discursos sobre a beleza e o bem careçam de coerência e de razoabilidade.
Mas não é de maneira nenhuma irrisório que o homem deixe testemunho da sua passagem na terra e que cada um ilumine com paixão uma realidade.
Nisto da eternidade tem que se dar um empurrãozinho, senão caímos na autocomplacência que é o rastilho do carreirismo.
De uma entrevista, Novembro de 1978»
[Agustina Bessa-Luís, Caderno de Significados, Guimarães, 2015]