Os rumores vinham de costas, a rua entrava pela casa, apesar de tão alta. Desviava então a vista fatigada do papel, a palavra exacta era lenta a chegar, quando chegava. O trabalho de horas acabara por reduzir-se a três ou quatro linhas, ainda por cima Cesário insinuara-se no seu apuro.
Aproximou-se da janela, a luz era ainda amarga naquele fim de Março.
O rio lá ao fundo ia frio, apesar disso as águas chamavam-no. É a música inominável da poesia, pensou, um dia terei de responder àquele apelo.
Voltou ao papel, não podia perder o resto da manhã. O que se expõe na palavra é um corpo mortal, mas são essas interrogações que resistem à morte.
Amarfanhou a folha, atirou-a fora, exasperado.
Pegou na bengala, desceu à rua. Março ia frio, não há dúvida.
Eugénio de Andrade
(16.5.85)
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