Era um banco de rua. Sim era um banco de rua, não era um banco de jardim. Os bancos de jardim são verdes ou castanhos. Aquele era de rua porque era branco...frio como a rua e o dia que estava a amanhecer. Passei por ele... não tinha nada que me convidasse a sentar e a pressa do relógio era tanta que nem pensar em fazê-lo.
Estava tão só aquele banco...reparei com pressa que tinha um figurinha trabalhada no pé e uma seta nas costas... Sorri e lembrei-me do cupido. Disparate. Eu e as figuras míticas.
Reparei depois umas horas mais tarde que o banco era iluminado pelo sol por volta do meio dia e que os pombos se passeavam nele e os pardais faziam dele poleiro. Pela tarde uma mulher muito velha, tão velha como a lembrança que tenho de dias sentada nos joelhos da minha avó, veio trazer-lhes não sei que petisco e não sei que conversa porque eles olhavam-na demoradamente antes de debicarem o pão que lhes atirava.
Nunca tinha reparado que da janela do gabinete se via o banco e espreitei-o ainda mais vezes a partir desse dia..
Uma tarde um homem de cabelos salpicados de branco sentara-se nele e a sombra que deixava reflectida no chão era triste como se lembrasse nostalgias que o tinham feito feliz. Reparei que o fazia sempre à mesma hora e não conseguia evitar espreitar pela hora do costume,...a dele se sentar ali.
Naquele dia saí mais cedo. O homem estava lá e via ainda os pedaços de pão espalhados pelo chão à espera dos pombos...mas ele não esperava os pombos.
Voltou a cabeça ao som dos saltos dos meus sapatos. Sorriu-me e levantou-se subitamente caminhando na minha direcção...
Depois disse quando me olhou nos olhos:
- Desculpe... Desculpe, tem os passos iguais aos dela.
Depois desse dia não voltei a passar perto do banco. O medo de me confrontar com as lembranças do homem assustavam-me. Também não espreitei mais a mulher dos pombos,...
Um dia, enquanto bebia o café sentada na ponta da secretária espreitando o jornal, reparei numa história pequena na ultima página com uma foto do banco da rua onde trabalho. Contava a história de uma mulher elegante que todos os dias passava ali e que um homem amara toda a Vida.
Essa mulher vinha depois de o ter sabido morto, dar pão aos pombos todas as tardes....para apaziguar a culpa de nunca o ter amado.
Morrera no dia anterior... era uma mulher que trabalhava num escritório em frente...elegante... e usava saltos altos com um som inegualável...
ACCB
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