Pensando de repente, eu acho que os poetas têm daqueles súbitos momentos de necessidade de entrar dentro da poesia e ficar lá dentro, trancados, em silêncio, à espera de reflexão ou solução para o afastamento do que acontece à volta mas em choque com o que acontece à volta.
Assim como quem se fecha num quarto escuro ou num jardim de inverno e, ao fim de uns minutos, começa a ver todos os recortes, os mais pormenorizados, e a ouvir todos os sons que são inaudíveis com luz e, adormece inebriado, como que desfalecido, de tantos aromas do jardim de inverno transparente porque o poeta vê lá para fora mas, ninguém vê lá para dentro.
E os sons podem ser de tudo e de nada, de uma voz doce em leituras calmas, com sotaque ou em castelhano, um apelo a pegar na escrita e criar um Mundo à volta, ainda dentro do jardim de inverno transparente.
Lá fora os dias passam súbitos, de dia, nas corridas das horas de trabalho ou de tédio e, à noite, nas luzes rápidas das cidades repetitivas e festivas se for Natal.
Dizem que jogam um Mundial num país que se fechou dentro de si mas cujo o poder económico quebrou as janelas dos jardins de Inverno,... dizem que não se vê nada lá para fora mesmo depois dos vidros quebrados e os sons não têm musicalidade...
Mas há gritos de um Mundial, não contra as violações dos Direitos Humanos mas pelos gladiadores que se debatem a troco de milhões.
Não, não é um circo, nem um quarto escuro (que esse é o esconderijo dos pensamentos), nem um jardim de inverno inebriado de aromas,... é um Mundial de ilusões e não há chave para solução.