Quinta-feira, 6 de Junho de 2024

Aproveita o dia

 

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Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido...

escrito no papiro por ACCB às 00:59
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Segunda-feira, 3 de Junho de 2024

O livro

Deixei cair a frase...
Tinha música mas não se ouviu
Perdi a melodia
Já não sei o que dizia nela
Mas falava do começo de um livro
Melhor, era o começo de um livro.
Assim, do nada,...como quando nos morre
uma pessoa querida que faz parte de nós
a vida toda... mas parte.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 10:54
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Quinta-feira, 30 de Maio de 2024

O impulso para a escrita

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O impulso para a escrita emana de um conjunto de factores aleatórios e irrepetíveis.
É a hora, o local que pode ser de pressa, a caminho do aeroporto, a música que toca no rádio do carro silencioso, o olhar do condutor fixado automaticamente na estrada.
 
Há tantos fatores momentâneos, que não se conjugam sempre e, na maior parte das vezes , não se conjugam mais.
E sentimos, sim agora escrevia um livro, a primeira parte ou, outra parte daquele que já se andava a escrever e parou como quando se suspende a leitura de um de muitos livros que dormem na mesa de cabeceira mas nunca têm pó.
 
Sabemos pelo pó dos livros há quanto tempo ninguém olha para eles, como quem não olha mais para um amor gasto de tanto conter sempre os mesmos gestos e rotinas.
 
Mas os livros são seres assim cheios de mundos, com portais para vidas que nunca foram vividas a não ser no papel, conspirações que podiam ser levadas a cabo na realidade que não sabemos se não é só já virtual.
Será que vivemos outra dimensão ou também noutra dimensão ?!
 
E qual delas é a real? A do momento à pressa a caminho do aeroporto ou a outra onde isso ainda não aconteceu, ou talvez aquela onde nem há aeroporto.
E se fôssemos todos células de um grande ser? Mitocondrias de um grande sistema, ínfimos pormenores de um universo maior que o imaginado.
 
No carro o rádio insiste na música, é antiga e agradável, mas não a fixo porque entretanto faço um check In mental dos documentos que trago comigo para mais à frente me enfiar numa máquina que voa durante duas horas até ao destino…
 
E para quando o teletransporte?!
E se fica alguma coisa para trás ?!por exemplo um braço , um nariz, a língua !!! senhores,… a língua !….
 
Terminal 1.Chegámos. Penso que estive a tomar banho mas, o carro com os pneus em baixo e um cheiro de quem não tem o duche matinal, faz-me pensar quando o condutor abre o porta bagagens , felizmente, não tem lá outro a dormir atrás.
Mal fala o português mas sorri em qualquer língua.
E os sorrisos como diz o poeta, abrem as portas.
 
 
Saio em direção à segurança, há que deixar formalidades cumpridas rapidamente para depois desfrutar a observação dos passageiros do tempo, para cá e para lá, enquanto eu espero o meu espaço na viagem.
Viajar e ler, portas para tantos mundos sem portas.
Um prazer conseguido tão raramente que, na reta final de uma carreira que passou num ápice, ambicionas aeroportos, livros, músicas que conheces mas esqueces onde ouviste a última vez.
 
Guardar sabores, conjugações únicas e irrepetíveis, locais, memórias…registar os momentos, as pessoas, os sonhos, as Vidas, as realidades ainda que paralelas…
Viver os espaços de paz e civilização até que um louco qualquer ameace trocar o guião.
 
 
É assim que a minha geração que nasceu num Mundo saído da guerra e viveu em direção à tecnologia e à ciência, não se conforma com um retrocesso.
Há que ocupar as vontades de vida e não de sofrimento, há que exigir aquilo a que temos direito, há que provar que este espaço habitável não é um mundo de guerra e que, aqueles onde o conflito se foca, não podem expandir-se e devem ser severa e rapidamente parados.
 
Já me alonguei demasiado … Se os vossos olhos me lerem,… diga-me das vossas verdades ainda que pensem que nesta fase da Vida eu já não devia desejar mudar o Mundo.
Senhores passageiros peço-vos que coloquem os cintos, endireitem as costas da cadeira.
Vamos começar a descer … …
Bom feriado.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 00:39
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Domingo, 26 de Maio de 2024

A sustentação do poeta

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O que sustenta o poeta não são grandes coisas
Umas paredes com livros
Uma janela à direita a derramar Sol
Um papel ou algo onde escrever
Muito silêncio
depois do ruído de tudo
 
Um interiorizar os dias e os sobressaltos
Os olhos postos em nada
E a magia do impulso de não saber o que vai escrever….
E escreve
 
 
 
Escreve a Vida lá fora
Sobre o que os sentidos lhe dizem que sentiu
Define as sensações às existências
Conta como vai por dentro depois de ser atingido pelas “coisas”
que acontecem no ângulo morto
do seu sentir
 
 
E diz quem escreve, que
o ângulo morto
é o tal soslaio de que falava Fernando Pessoa
Quando lia o livro de Cesario Verde
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 12:12
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Segunda-feira, 20 de Maio de 2024

As Palavras

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“O facto de as palavras desencadearem algo nos outros,
de poderem pôr alguém em movimento ou de travar esse impulso,
de fazerem com que uma pessoa pudesse rir ou chorar,
sempre lhe parecera estranho.
Desde criança.
E no fundo isso nunca deixara de o impressionar.
Como é que elas conseguiam isso?
Não era como a magia?”
 
 
Pascal Mercier "Comboio Nocturno para Lisboa"
 
( Imagem - Sala Clementina no Vaticano)
escrito no papiro por ACCB às 19:00
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Quinta-feira, 16 de Maio de 2024

CAMINHO

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Na marcha pelo deserto eu sabia
Que alguns morreriam
Mas pensava sob o céu redondo
—Onde
O limite do meu amor da minha força?
E eis que morro antes do próximo oásis
Com a garganta seca e o peso
Ilimitado do sol sobre os meus ombros
Eis que morro cega de brancura
Cansada de mais para avistar miragens
Eu sabia
Que alguém
Antes do próximo oásis morreria
 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen in OBRA POÉTICA
GEOGRAFIA
escrito no papiro por ACCB às 08:19
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Quinta-feira, 9 de Maio de 2024

Remoinho

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Escorre o tempo  entre os ponteiros do relógio e a curva da sombra dos dias

 O Sol precipita-se nas ruas de Lisboa

 Ainda há pouco cheguei e já sinto a tarde na Rua do Arsenal

 Tudo muito súbito

 Tudo muito rápido desde 2007- 17 anos

Iguais, repetitivos, mas cada vez mais vertiginosos 

 E nem eu ligo a isto

 

 Não são só os indiferentes que não ligam

Não são só os intelectuais que não ligam

 Não são só os que só têm uma vida que não ligam

 Também eu, que sinto as vidas que vivo e as que ainda quero viver,

pareço alheia à vertigem do tempo

 

É só quando o sol, ao fundo, na Rua do Arsenal 

 se pinta de dourado e quente

que, antes de entrar no carro, vejo que já me custa tanta calçada portuguesa e

tantos dias iguais às pedras de Lisboa

 

Conheço-as todas pela luz da sombra dos dias



ACCB

escrito no papiro por ACCB às 12:25
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Sábado, 4 de Maio de 2024

POEMA



Cumpridos os deveres compridos deixaram
De assediar minhas horas

Doce a liberdade retoma em si minha leveza antiga

 

Sophia de Mello Breyner ILHAS

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______
Cumpridos os deveres
Compridos e dolorosos
Enrolados
Atravessados
Indesejados por mim
sofridos pelos outros
Cumpridos esses deveres
Dêem me uma folha,
uma caneta
( não uma esferográfica),
E se eu adormecer, não exausta , mas exaurida como os deveres compridos e cumpridos

rezem por mim uma oração pelos dias que nos fazem ter deveres compridos e nos fazem cumpri-los.

ACCB ( Adelina Barradas de Oliveira)

escrito no papiro por ACCB às 00:50
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Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

As Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são a terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
 
 
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
 
 
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
 
 
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
 
 
 
Manuel Alegre. As mãos. In. “O Canto e as Armas”.
 

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escrito no papiro por ACCB às 11:51
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Quarta-feira, 24 de Abril de 2024

As Portas Que Abril Abriu

As Portas Que Abril Abriu (1975)
Letra e interpretação: José Carlos Ary dos Santos

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

escrito no papiro por ACCB às 01:28
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Terça-feira, 23 de Abril de 2024

Abril Letras Mil

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23 de abril de 2022 
Conteúdo partilhado com: Os teus amigos e amigos de Licínia
 
 
 
Eu agora acordo com o Sol.Nao sei se é da idade porque, ânsia de viver sempre tive e sempre achei um desperdício dormir mais de metade das 24horas que atribuíram ao dia.

Aproveito a primeira hora para ler notícias, todas iguais e algumas copiadas de jornais internacionais.

Também passo os olhos pelo face e sinto que cada vez me surpreende menos a Babel que por aqui se instalou ...
Estarei a ficar velha por isso ou se pelo acordar cedo ou pelas duas coisas ou só porque já vivi uns anitos?!

Li há pouco que não havia cravos em Portugal no 25 de Abril de 1974
Fiquei logo com vontade de confirmar a razão de ciência da afirmação
Dizem uns que vieram na véspera, de avião, encomendados, de um país estrangeiro ali para a América do sul.....

Vou averiguar isso....tenho de descobrir se foi assim....mas se foi pelo menos seriam para vender no mercado da Ribeira e no Rossio....ou será que o Jaime Neves, o Salgueiro Maia e os restantes capitães de Abril, para além de projetarem a revolução, encomendaram os cravos?....

E também li entretanto, nesta madrugada de 23 de Abril de 2022 que o cravo é o símbolo da Banca e que o que a Banca queria era dominar tudo.....

E fiquei de novo com vontade de tirar isso a limpo ...

Será que esta minha mania de romancear e fazer poesia em tudo, me tem mantido enganada quanto aos cravos ?!....

E quanto aos capitães?! Aos de Abril, claro!
E quanto ....na ...não vou perguntar mais nada.
Acordei cedo de mais .....vou mas é tomar um duche arranjar-me e tomar um grande café .

Tinha para mim que sempre houve cravos, que o cravo é uma flor perene, sempre foi, que floresce em climas como o nosso no final da Primavera .....

Mas vou tirar a limpo essa da encomenda internacional de cravos vermelhos chegados no dia 24 para lançar a 25.... a mando da Banca ..

Neste madrugar li ainda por aí, por razões diferentes, que um grupo de gente boa sente que está a ficar tudo doido.....

É ....deve ser isso porque eu também o sinto.

Bom dia e bom sábado...está Sol ☀️
Vou preparar-me para um delicioso café, organizar uns papéis, deitar um olho à justiçA com A que sairá neste mês de Abril, fazer a prova de um vestido para um casamento e, à tarde, vou até Mafra... saber da queda de umas falésias que não quero perder....porque hoje é dia Mundial do Livro não é minha amiga Licínia Quitério ?!

Divirtam-se e façam o favor de não ter medo da Vida

ACCB
escrito no papiro por ACCB às 10:20
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Sábado, 20 de Abril de 2024

O Mar dos Meus olhos - Anda por aí

 

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escrito no papiro por ACCB às 10:21
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Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

A BOA HORA - em boa hora

 
Que fizeram ao Tribunal da Boa Hora?
 
Sempre será um Museu da História do Judiciário?
 
Já agora, voltaremos a ver esta peça de teatro representada na Boa Hora?!


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escrito no papiro por ACCB às 18:27
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Obstáculo à Paz

Este Livro devia ser lido por todos
Tem em si um trabalho de fundo atualíssimo que não deixa o que nos trouxe até aqui esquecido, até aos dias de hoje, ao abordar o tema.
Num Mundo que volta a viver Guerras,
tráfico de seres humanos,
ondas de refugiados,
este livro alerta não para o que já sabemos, mas para o que devemos saber.
 
Parabéns Raquel Véstia.
 
 
 

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escrito no papiro por ACCB às 10:24
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Segunda-feira, 11 de Março de 2024

Imagem à espera de um Conto

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escrito no papiro por ACCB às 11:58
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Uma Delícia

 

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"A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de modo que a dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo. Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza gosta do sabor amargo.
Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole.
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…"
 
 
Registo da antropóloga Paola Klug

 

escrito no papiro por ACCB às 11:55
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Março

 
 
 
 

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Março voltou
Março voltou, esta
ácida loucura de pássaros
está outra vez à nossa porta,
o ar de vidro vai direito ao coração.
Também elas cantam, as montanhas:
somente nenhum de nós
as ouve, distraídos
com o monótono silabar do vento
ou doutros peregrinos.
Já sabeis como temos ainda restos
de pudor
e pelo mundo
uma enorme, enorme indiferença.
 
 
 
Eugénio de Andrade. In "Branco no Branco"
escrito no papiro por ACCB às 11:54
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Sábado, 17 de Fevereiro de 2024

................

 
 
 
Lido por aí e Surripiado porque é verdade 🙂
 
"Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar. E há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo".
 
 
Pedro Mexia
 
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Ou é da chuva ou é do mau feitio. Cai-me cá dentro uma vontade de dizer umas coisas que me deixa sem necessidade de tempero na salada do almoço. Tenho o forno em temperatura alta, a fugir do convencional. Cheira bem ... Almoço e depois logo vejo como fico. Pode ser que esta sensação seja da hora....
 
ACCB
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A porcaria da publicidade em qualquer clip que se quer ver e que não se pode saltar... irrita-me. É uma forma de condicionar a minha liberdade a aceder de imediato ao que quero ver.

ACCB
 
_______________________


 
escrito no papiro por ACCB às 13:06
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Onde

Onde será esta hora em que o Sol caminha pelo tempo e se esconde das horas do outro lado da Vida?
ACCB
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Alguém respondeu : "Ao acender das candeias" -

Hermengarda Valle de Frias

 

escrito no papiro por ACCB às 12:55
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Quarta-feira, 7 de Fevereiro de 2024

Que fazem elas, as gaivotas?

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Que fazem elas, as gaivotas?
Chocam o ar em gritos
rasgam a tarde em voos alterados
Vêm lá do fundo Este para pousar ao pôr do sol a Oeste
Sobressaltadas talvez pela Paz que julgam encontrar no fim do dia.
Não há paz no fim do dia. Só à sexta,... e dura pouco... Dura só o momento de pensar que vai haver paz porque vai começar aquilo a que chamam fim,.. fim da semana,... da semana que passou, que nos deu cabo da cabeça,... que nos roubou o tempo e os dias... e a paciência.
Elas reunem-se para fazer o resumo da vida que levaram durante o dia.
Também nunca percebi porque vêm todas do mesmo lado, para o mesmo lado, e param todas no mesmo lado.
Andam em bando, são provocadoras, barulhentas, desalinhadas, fazem tempestades em terra, têm mais asas que barriga,...
Mas são livres... ... ...
......
Há quem diga que também são ladras...
e assassinas de pombos...já não bastava os humanos assassinarem os pombos,... envenenarem os pombos...
Dizem que são modas....
Eu lembro-me de ser pequena e ir dar milho aos pombos do Rossio,... assim como que num ritual... com dia marcado e tudo. E havia muitos e as pessoas até lhes achavam graça....
São modas ....
As gaivotas eram livres
Os pombos eram livres
Agora as gaivotas são assassinas e porcas e os pombos são uma praga.
Não há Paz no fim do dia.
ACCB
(foto ACCB)
escrito no papiro por ACCB às 01:20
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Domingo, 4 de Fevereiro de 2024

A Alma e o Corpo

 

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Às vezes… quando acordo muito cedo de manhã,… depois de me ter deitado tarde…( não é o caso hoje), … parece que a alma ainda não voltou para o corpo….

Credo! Para quando a semana de 4 dias? … Com pausa às quartas …também?!

…….

 

ACCB

escrito no papiro por ACCB às 22:28
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Quem és tu

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Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é o gesto dos teus braços,
O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

escrito no papiro por ACCB às 22:25
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"Senta te aí.

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"Senta te aí.
 
Como dizer te que não tem nada que ver com isso? A gente prolonga se através deles e se partem levam nos tudo,... com eles.
 
Não te sei dizer... é como quando nascem... não há palavras. É amor à primeira vista, uma paixão de alma de que não há cor para definir ... Não há adjectivo que superlativo ou comparativo defina o sentir.
Se partem...também é assim.
Confusão de sentir ... Um vazio... sem cor ...sem som...definitivo. Mortal.
 
Mas se não tê-los (sabes?), é como diz o poeta: "como sabê-los"?!
Senta te aí e não digas nada. Pensa que o silêncio fala melhor nestas situações.
 
Pensa assim:
É como quando são adolescentes e barafustamos com regras barulhentas.... Eles não ouvem.
Como quando vão de viagem e te calas ao lado deles à espera do avião. Partias com eles... mas vão felizes sozinhos e esperas que regressem felizes. Essa é a tua felicidade, o reencontro e o brilho nos olhos deles.
 
Senta te aí....
Não há palavras, nem cor, nem adjectivo superlativo ou comparativo.
Cada partida é diferente. Umas têm regresso outras aguardam-te num tempo sem tempo.
Senta te aí."
 

 

escrito no papiro por ACCB às 17:42
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Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2024

Sabes

Sabes?
Às vezes é preciso dormir
descansar o dia cansado que te pesa nos ombros
Às vezes é preciso dormir para não desistir
 
Ouve música e senta-te
lê e senta-te
fecha os olhos, senta-te
mas abandona as horas que já passaram...
Amanhã rejuvenesce o dia
é Primavera não tarda
 
Às vezes é preciso dormir para não desistir...
Deixa-te estar... e dorme.
 
A Primavera vem já a seguir
Fecha-se o Inverno na Curva da manhã e a Vida vai acontecer
Acontece sempre
 
ACCB

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escrito no papiro por ACCB às 19:42
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Segunda-feira, 15 de Janeiro de 2024

Escala do Frio

 

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 🌡
+24°C Na Amareleja já põem um cobertor para dormir.
+19°C Na Madeira ligam o aquecimento e começam a guardar víveres para o caso de ficarem isolados.
+8°C Os carros italianos já não pegam.
0°C A água congela.
-1°C Abres a boca e o bafo parece fumo.
Os de Montalegre estão nas esplanadas a comer gelados ou a beber finos...
-4 °C O gato enfia se na tua cama.
A CMTV vai às Penhas da Saúde entrevistar turistas porque a estrada para a Torre está fechada (o primeiro que entrevistam é sempre brasileiro)
-10 °C Os carros franceses já não arrancam.
-12°C A TVI diz q é o fim do mundo e mostra imagens de camiões tombados na berma da estrada.
-15°C Os carros alemães já não pegam.
-24°C O gato mete se na tua cama, dentro das tuas calças do pijama.
-29 °C Os carros japoneses já não arrancam.
-30 °C Já porra de carro nenhum normal arranca.
-36 °C Os carros russos não arrancam.
-39 °C Os de Montalegre apertam os botões da camisa.
-50 °C Um carro italiano mete se na tua cama.
-60 °C Os russos estão congelados. Os de Montalegre começam a apertar os casacos.
-70°C O Inferno está congelado.
-120°C Todo o álcool congela. Os russos começam a ficar nervosos.
-273 °C Zero absoluto! As moléculas deixam de mexer.
Os russos começam a lamber vodka congelada.
Os de Montalegre levantam se das esplanadas e vão para dentro das tascas... ...

 

 

 

escrito no papiro por ACCB às 14:44
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Domingo, 14 de Janeiro de 2024

Gostava

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arte de ANDREW FEREZ
 
 
―“Gostava mais quando conseguia imaginar grandeza nos outros, mesmo que nem sempre houvesse.”
 
 
―Charles Bukowski
 
 
escrito no papiro por ACCB às 19:24
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A Trança de Inês

 

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“Conforta-me pensar que a vida não começa nem acaba aqui. Um dia regressaremos ao lugar de onde viemos, um lugar de repouso e de paz, um lugar livre de mágoas. Mas quantos lugares de dor teremos de atravessar para alcançá-lo? Quanta tristeza, quanto sofrimento, quanta crueldade no destino do Homem!
 
E se o mundo é repleto de maravilhas é só para não perdermos de vista a morada original, que nos aguarda ao fim dos nossos doze trabalhos de Hércules, e a que os poetas e os místicos chamam paraíso e eu chamo, simplesmente, amor. As guerras fazem-se para alcançar a paz, ensinaram-nos durante séculos.
 
(...)O sofrimento serve para alcançar a bem-aventurança, invento eu, para não morrer de desespero.”
 
 
 
― Rosa Lobato de Faria, A Trança de Inês
escrito no papiro por ACCB às 19:13
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Sábado, 13 de Janeiro de 2024

O texto.........

 

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Era tão Feliz e não sabia
 
 
Ele há daqueles dias sem chuva, mas com frio.
Sacudo as ideias e viro as costas ao que se diz como se a indiferença me fosse preciosa.
Mas não consigo, não tem nada de indiferente esta minha forma de analisar a causa das coisas.
Tenho um texto para acabar e dormir devia ser a solução.... eu que até durmo pouco podia dormir muitas horas e nem acabar o texto.
 
 
O relógio não se cala e teima em avançar pela noite fora
Não tarda é outro dia, diz ele... pois que seja que bem preciso.
E se eu não acabar o texto?
 
 
E se eu não dormir?
Quanto falta para ser outro dia?
 
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 19:19
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Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2024

Sucata

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( Foto de ACCB)
 
Sucata
o que levam das nossas vidas
as coisas velhas que deitamos fora porque
as casas são pequenas e os objectos
envelhecem agora mais depressa
do que nós
nas velhas casas
os lençóis de linho e as arcas de cânfora
e os serviços de chá onde se via
uma chinesa no fundo das chávenas
que um tio avô
tinha trazido de Cantão
sobreviviam sempre a todos os mortos
e passavam de cama para cama
e de sala para sala
e de mesa para mesa
e eram sempre os mesmos
e nós tão outros
mas agora tudo é feito
para morrer depressa e
sem deixar mágoa nem vestígio
e que fazem dentro das nossas vidas
gravadores de fita máquinas de escrever
cassettes onde aprisionámos
histórias momentos e rostos
que julgávamos eternos
e que pensávamos rever
a vida inteira
--o senhor da sucata estava feliz
agradeceu muitas vezes
enquanto amontoava tudo
deixando aquela casa
subitamente maior
(ou muito mais pequena
conforme o ponto de vista)"
 
 
Alice Vieira, "Olha-me Como Quem Chove".
escrito no papiro por ACCB às 09:17
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Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2024

Pequenas palavras

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agua
De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
 
 
De todas as palavras escolhi dar.
De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
 
 
De todas as palavras escolhi mel.
De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.
 
E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.
 
 
Rosa Lobato de Faria
escrito no papiro por ACCB às 19:04
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GUARDEI NA GAVETA DE BAIXO

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Guardei na gaveta de baixo
a flor que trazia nos dedos
à hora de adivinhar-te.
Primeiro
foste apenas uma ideia
que me segurou na porta
da cozinha quando ia
meter numa garrafa verde
um malmequer amarelo.
Fiquei ali
à espera que te transformasses
em certeza ou em música.
Lembro-me que havia um sol bonito
a enquadrar a cesta dos pimentos
Lembro-me do chiar mansinho
da panela da sopa
Lembro-me do gato.
Olhou-me
e li nos seus olhos feiticeiros
o recado que os teus
ainda não podiam dar-me.
Soube que tinhas sido
arremessado à praia do meu corpo
pela espuma desfeita
das vagas de Setembro.
Como um grão de areia
uma pepita de ouro
um búzio.
Pude então mover-me andar
sorrir de novo
abrir a gaveta de baixo
guardar a flor do meu segredo.
 
 
ROSA LOBATO DE FARIA, in A GAVETA DE BAIXO (ASA, 1999);
in A NOITE INTEIRA JÁ NÃO CHEGA - POESIA - 1983-2010 (Guimarães Editora, 2012)

 

escrito no papiro por ACCB às 18:59
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Se eu morrer de manhã

Se eu morrer de manhã
Abre a janela devagar
E olha com rigor o dia que não tenho
Não me lamentes. Eu não me entristeço:
Ter tido a noite é mais do que mereço
Se nem conheço a noite de que venho.
Deixa entrar pela casa um pouco de ar
E um pedaço de céu
O único que sei.


Talvez um pássaro me estenda a asa
Que não saber voar
Foi sempre a minha lei.
Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que não tenho
E do mistério nada te direi.


Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
Pois não estar é da morte quanto sei.


Rosa Lobato de Faria

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escrito no papiro por ACCB às 18:49
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E de novo

E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
 
As preces, os segredos, as risadas
no altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
 
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
 
 
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.


Rosa Lobato de Faria

escrito no papiro por ACCB às 18:48
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CHAMAR A MÚSICA

 
Esta noite vou ficar assim
Prisioneira desse olhar
De mel pousado em mim
Vou chamar a música
Pôr à prova a minha voz
Numa trova só pra nós
Esta noite vou beber licor
Como um filtro redentor
De amor, amor, amor
Vou chamar a música
Vou pegar na tua mão
Vou compor uma canção
Chamar a música
Música
Tê-la aqui tão perto
Como o vento no deserto
Acordado em mim
Chamar a música
Música
Musa dos meus temas
Nesta noite de açucenas
Abraçar-te apenas
É chamar a música
Esta noite não quero a TV
Nem a folha do jornal
Banal que ninguém lê
Vou chamar a música
Murmurar um madrigal
Inventar um ritual
Esta noite vou servir um chá
Feito de ervas e jasmim
E aromas que não há
Vou chamar a música
Encontrar à flor de mim
Um poema de cetim
Chamar a música
Música
Tê-la aqui tão perto
Como o vento no deserto
Acordado em mim
Chamar a música
Música
Musa dos meus temas
Nesta noite de açucenas
Abraçar-te apenas
É chamar a música

Rosa Lobato de Faria
escrito no papiro por ACCB às 18:45
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Terça-feira, 9 de Janeiro de 2024

09-01-2017/24

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Há os dias, os tais das memórias que ainda doem, mas há os outros, os dias das memórias que nos trazem os risos, as histórias, os poemas declamados do alto de uma cadeira no meio de uma sala em que todo o público eras tu mas havia muita luz, muito palco e muitos aplausos…
 
E há os dias dos medos em que só a tua voz me acalmava e dava força , como se puxasses uma cortina e todo o sol do Mundo me inundasse cheio de coragem…
Faz 7 anos… Para mim as datas marcantes têm sempre algo de inesquecível, relacionam-se com outras datas e ganham significado e força …
Faz hoje 7 anos que fisicamente partiu o teu corpo,… faz 1 ano que algo aconteceu e marcou um momento bom e bonito para a tua neta,… vão fazer 7 anos que nasceu o teu primeiro neto…
O mês que levou a tua presença física trouxe duas continuações tuas… dois netos meus, do teu neto, uma a 3 outro a 30…
Os números e eu!…
 
Mas do que sinto falta por vezes é dessa tua força e da confiança que me incutias.
Há pessoas assim, que desvanecem os medos…
Faz 7 anos e hoje está nevoeiro, frio, ainda nem vi o mar…
 
 
Prometo que assim que o sol rasgar os medos vamos até lá.
Bjs Mãe … é uma palavra que também visto e acho que me fica bem.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 12:21
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Domingo, 7 de Janeiro de 2024

Se eu morrer antes do meu cão

SE EU MORRER ANTES DO MEU CÃO...
 

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"Se eu morrer antes do meu cão, permita que ele veja meu corpo.
Ele compreende a morte;
se sentir minha ausência, poderá chorar por mim. Caso não me veja novamente, pensará que o abandonei e continuará aguardando meu retorno. Se eu partir antes de meu companheiro, permita que ele se despeça de mim.
Os cães representam uma amizade infindável, um amigo leal, uma parte da vida e uma razão para existir!' ❤️🐾"
 
Texto: Autor Desconhecido
escrito no papiro por ACCB às 09:39
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Quarta-feira, 3 de Janeiro de 2024

Restos de Natal

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Ficou o que resta de mais um Natal na esperança do próximo
Até lá muito tempo pelo meio feito de 4 estações e 12 meses, movimentos de rotação e translação, notícias convenientes em catadupa, medos, e outros que tais, tomarão lugar nos nossos dias.
 
Ressoam passos na praça enorme onde dizem que mora ao fundo, a caminho do Tejo, a Ribeira das Naus.
O silêncio da noite, se ouvido com atenção, ainda nos fala de revoluções, assassinatos e terramotos.
 
Fico a ver e ouvir… deixo os pensamentos e escuto.
Só o Tejo sobe os degraus do cais das colunas com a maré, e volta atrás,… num balancear, … como quem canta uma canção de embalar.
 
A História adormeceu,… terá sido esquecida?
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 20:01
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Quarta-feira, 20 de Setembro de 2023

A Tristeza

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Ah a Tristeza!... é contagiosa mas,

primeiro é gelatinosa, sinuosa,...

espalha-se, enrola-se , quebra-te os sorrisos, dá cabo dos teus pensamentos,

tira-te todo o espaço para seres 

apaga-te qualquer carisma

 

E às vezes, a tristeza  nem é tua,

é um estado de alma qualquer, de um outro qualquer

 Um estado de teatro triste

 que não suporta os teus sorrisos 

A tua forma de ser alegre 

 que te deixa sem saber como fazer

 

Ah a tristeza alheia...

Sempre pronta a estragar-te o dia

E depois,... depois fugir e abrir-se em sorrisos soltos.

 

ACCB

escrito no papiro por ACCB às 21:36
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Ser indiferente

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Ah! Ser indiferente!
 
É do alto do poder da sua indiferença
Que os chefes dos chefes dominam o mundo.
 
Ser alheio até a si mesmo!
 
É do alto do sentir desse alheamento
Que os mestres dos santos dominam o mundo.
 
Ser esquecido de que se existe!
 
É do alto do pensar desse esquecer
Que os deuses dos deuses dominam o mundo.
 
(Não ouvi o que dizias...
Ouvi só a música, e nem a essa ouvi...
Tocavas e falavas ao mesmo tempo?
Sim, creio que tocavas e falavas ao mesmo tempo...
Com quem?
Com alguém em quem tudo acabava no dormir do mundo...)
 
 
EM - POESIA - ÁLVARO DE CAMPOS - ASSÍRIO & ALVIM
Pois é... mas eu não consigo. 
escrito no papiro por ACCB às 19:10
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As Fotografias

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( começar como se fosse uma redação)

As Fotografias
 
 
 
 
As Fotografias antigas guardam as pessoas como elas eram no tempo em que o tempo não passava por elas.
 
Às vezes olhamos para dentro das fotografias e percebemos que fomos bonitas, tínhamos um ar sereno e por viver, alegre de tudo por saber e (sem dificuldade), éramos muito magrinhas.
 
Depois, com o tempo acumulámos gorduras e traços como quem acumula fotografias mas essas, ficaram lá atrás num momento, planas, estáticas no papel mas falantes, gritando que já fomos assim, no pretérito perfeito.
 
Era preciso chegar ao presente para nós vermos quando éramos, quando fomos, e tudo estava por saber e viver, acontecer.
Começámos com uma sobrancelha levantada, um toque de sorriso sempre puxando os lábios para cima, um olhar ausente ou perspicaz, observador ou apenas vivo mas, sempre vazio de sobressaltos.
 
 
As Fotografias são caixas de memórias que nos perguntam o que foi que passou por nós, o que foi que nos fez ceder à gravidade do planeta e dos seres, o que foi que nos desenhou outro rosto, outros cantos da boca e outra arcada supraciliar....
.....
 
Até há por aí quem devolva as arcadas supraciliares, quem puxe os cantos da boca como quem puxa o pano da boca de cena, até há quem leia as fotos e apague alguns traços... mas, apagar o que os desenhou não há.
 
As Fotografias são umas delatoras como o espelho mágico da madrasta da Branca de Neve, alçapões destinados à cena para que tudo vá correndo bem na ribalta.
 
Senhor contra-regra batam-se as 7 pancadas de Moliére.
Sentemo-nos na arquibancada.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 18:51
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