Terça-feira, 4 de Fevereiro de 2025

Teresa Horta 

Maria Teresa de Mascarenhas Horta Barros (1937-2025) faleceu hoje, dia 4 de fevereiro.

Escritora, poetisa, jornalista e ativista, é conhecida como uma das mais destacadas feministas portuguesas, tendo feito parte do Movimento de Libertação das Mulheres de Portugal.

Em dezembro de 2024, foi incluída numa lista de 100 mulheres mais influentes e inspiradoras de todo o mundo, elaborada pela estação pública britânica BBC, que inclui artistas, ativistas, advogadas ou cientistas.

 

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Sou feita de muitos
nós
desobediência e meio-dia
Sou aquela que negou
aquilo
que os outros queriam
Disse não à minha sina
de destino preparado
recusei as ordens escusas
preferi a liberdade
e vivo deste meu lado
 
 
Maria Teresa Horta

 

 

escrito no papiro por ACCB às 22:17
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Maria Teresa Horta

Maria Teresa Horta, a última das "Três Marias" - 87 anos de História, de Poesia de Escrita

Há um momento em que algo menos visível nos chama, em que temos de deixar o que prende os outros ao nosso ser
Mas há os que ficam para sempre entre nós
 

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Joelho

Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho

Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio

Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo

Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo

Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo

E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento

Volto então ao teu
joelho
entreabrindo-te as pernas

Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas.

Maria Teresa Horta 
 

 

escrito no papiro por ACCB às 19:09
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Domingo, 2 de Fevereiro de 2025

Os Significados

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o
Memorial Eisenhower projetado por Frank Gehry, onde paredes de pedra natural contrastam fortemente com as superfícies de aço inox, um jogo materiais e texturas que procura simbolizar a costa da Normandia na qual soldados americanos desembarcaram no Dia D
 
 
_______________
Não sei como tudo começou: suponho
que havia uma figura que depois
se estilhaçou para formar um puzzle.
 
Mas se juntarem todas as peças
talvez não haja nenhuma figura, e então
de que origem intacta partiu tudo
o que depois se quebrou? É impossível
fazer estilhaços de estilhaços sem uma
coerência primeira, agora ausente.
 
Quando todas as peças se juntam
estaremos reduzidos ainda a uma peça
de uma figura maior, ou essa figura
é uma utopia pragmática, instrumental,
que permite algum sentido ?
 
Ó significados, para vós, na infância,
tinha um caderno.
 
Pedro Mexia, in "Duplo Império"
escrito no papiro por ACCB às 20:22
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Ainda estou Aqui OU Feliz Ano Velho

 
É Imperdível
Ainda estou Aqui
"Feliz Ano Velho"
_____________________________________________________
"Você se importa que eu não o acompanhe à porta!?"


Não é só o desempenho dela, da Fernanda Torres (que não consigo dissociar da Montenegro), mas é sobretudo a força que ela incute à personagem que já de si é forte.
O Filme é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva. Um caso verídico, igual a tantos outros casos verídicos de tantas famílias brasileiras, e portuguesas, que viveram a época da ditadura, da força de uma maioria. Não, provavelmente do Poder de uma minoria a que a maioria temia.
O desempenho dela é fantástico.

Marcelo descreve a mãe como uma mulher de luta, toda a vIda, mesmo depois de tudo mudar a sua vida.
Um filme que retrata uma realidade de uma forma tão autêntica que dói.

Até a cor da imagem, a fotografia são "reais".
Um
filme a não perder mesmo.

"Nós vamos sorrir! Sorriam"
ACCB


PS. No fim ficamos sem saber se somos nós que ainda estamos aqui
Se é a Memória que ainda está aqui
Se é o Poder da tal Minoria a quem a Maioria teme que anda por aí.

Para mim, ... é a Memória que ainda Está Aqui.
( É a Imagem final de Fernanda Montenegro que me diz isso)
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 19:37
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Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2025

Pelo Autor Balade pour Adelina

 

 

escrito no papiro por ACCB às 13:09
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Quinta-feira, 9 de Janeiro de 2025

8 anos

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Foi assim, por esta hora há 8 anos, também estava Sol e eu estava à secretária, como agora. O telefone tocou e sobressaltei-me porque era o número da enfermeira de serviço. O coração disse-me,... acho que já me tinha dito na noite anterior quando saí de perto de ti.
Foi tudo tão rápido ... 9 dias... 9. Uma infeção respiratória e o corpo que não reagiu aos antibióticos. O oxigénio e aquela parafrenália toda nos últimos 3 dias....O que me  magoou mais foi ver as tuas mãos presas mãe... as mãos nunca deviam estar presas... 
 E eu que sou uma mulher habituada a ver mãos presas, e que as quero livres de imediato, senti em mim tão funda dor que te soltei as mãos e as guardei nas minhas.

 As mães, nós,.... seres livres sem mal termos feito ao Mundo ( e mesmo os que mal tenham feito), de mãos presas...fisicamente presas,  é uma imagem que me magoa até ao fundo da alma.

E naquela noite, fez ontem 8 anos, quando saí, as tuas mãos ficaram livres mas, senti que também tu te irias libertar bem depressa... . Como as mães sentem, as filhas também sentem, fazem parte uma da outra. 

E não sei se me senti traída pela rapidez da partida, se me senti agradecida porque para ti pedira  ao Universo o que fosse melhor, não para mim, mas para ti. Não merecias sofrer, nem estar ligada a máquinas, nem de mãos presas... tu que me ensinaste a liberdade, mulher corajosa.
Faz hoje 8 anos, pelo meio dia, um pouco antes... disseram-me que partiras de noite serenamente. Eu sabia... mas não estava lá. E isso também dói muito mãe.


Mas temos a nossa continuidade. No dia 30, alguém que nos irá perpetuar para além dos teus netos, e que tu não chegaste a conhecer  mas soubeste que ía nascer, fará 8 anos de Vida.
Continuamos...(como diz a canção do Jorge Palma), enquanto houver estrada para andar, a gente vai continuar, uma na outra e nos que nasceram de nós, até ao infinito tendo em conta que alguns conjuntos de infinito são mais infinitos que outros.

Será uma questão matemática? Não... é uma questão biológica.

ACCB




escrito no papiro por ACCB às 12:20
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Quarta-feira, 8 de Janeiro de 2025

8.1.2017

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Gosto das manhãs claras, assim limpas com um vidro. Sabem como é? Logo pelas 7h30m mesmo com frio pendurado na ponta das pestanas porque o nariz já nem se sente.
 
Têm uma luz cristalina... duram até às 12horas se não forem interrompidas por notícias tristes. Era assim que eu queria a manhã do dia de amanhã há 8 anos.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 18:54
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“A arte existe porque a vida não basta”.

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Nós não cabemos dentro da vida, se cabemos é porque ainda não demos por nós…

Como podemos caber num tempo fracionado por horas, minutos, dias meses, anos, gestos repetidos a transpirar rotinas matinais, noturnas….taxas, impostos, vencimentos, pagamentos, obrigações, orações, genuflexões …
Canseira!
Há buracos negros, por aí, à espera de nos sorverem numa sílaba súbita, uma frase enrolada à volta da imaginação que nos morde até sairmos dela para outra, e outra, e outra frase…

E de repente é o espanto em que o olhar mergulha e fica como que noutra dimensão fora da Vida…envenenados por uma arte qualquer que se despe à nossa frente… e surge o impulso de escrever, ou de pintar, esculpir, dançar, criar, desconstruir, representar um outro eu qualquer, que nem conhecíamos… ficar apenas a ver… fotografar … dizer… cantar ou contemplar,… saber ouvir…
Porque a Vida não basta, uma Vida não basta e, como não sabemos se voltamos e viveremos outras vidas, recorremos à arte

Fernando Pessoa vivia-se em heterónimos, eu vou caindo aqui e ali em contemplações …

Dia 8 / 365 - 2025

ACCB

escrito no papiro por ACCB às 01:59
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Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2025

Oração de Dia de Reis

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Dá-nos Senhor, a coragem dos recomeços.
Mesmo nos dias quebrados
faz-nos descobrir limiares límpidos.
Não nos deixes acomodar ao saber daquilo que foi:
dá-nos largueza de coração para abraçar aquilo que é.
Afasta-nos do repetido,
do juízo mecânico que banaliza a história,
pois a desventra de qualquer surpresa e esperança.
Torna-nos atónitos como os seres que florescem.
Torna-nos inacabados como quem precisa
e deseja e antecipa um amanhã.
Torna-nos confiantes
como os que se atrevem a olhar tudo,
e a si mesmos,
com o encanto e a disponibilidade
de uma primeira vez.
 
José Tolentino Mendonça
escrito no papiro por ACCB às 01:05
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Sábado, 4 de Janeiro de 2025

Quantos reinados perdidos

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Dia 5 de 360 que faltam ou que estão para vir no ano jubilar.
Já passaram 5 dias…. 5 dias dão para uma escapadinha que, fora da rotina, parecem 10.
Mas não houve tempo para multiplicar 5 por dois e celebrou-se mais um ano de vida de quem só tem ainda dois mas já dita regras se, ainda por cima, lhe damos as regras que pode ditar.
Uma criaturinha de dois anos coloca um bom número de maduros à sua volta a adivinharem-lhe os gostos e os quereres, a satisfazerem-lhe as vaidades já femininas.
Foi ontem,… mas só dá para fazer o balanço hoje, tal não foi o estado de contemplação em que se ficou.
E não tem que ver com fazer vontades mas com ver até onde vão as vontades da criança que teve a felicidade de nascer num
País pequeno onde nasce o sol todos os dias em Paz.
Amén!
E a criança tem perfil de quem sabe o que quer, e sabe dizer o que gosta
Não é ser coruja ou avó coruja, ela é mesmo assim e, feliz de quem lhe adivinha os gostos… é que não fica só ela feliz, fica feliz quem consegue o núcleo do interesse da pequena Queen…
……
Saudades de quando festejavam o dia dos meus anos e eu tinha a idade de quem não tem horários ou provas a prestar …
Lembram-se?!
Quantos reinados perdidos ou deixados para trás para nos tornarmos servos…
Haverá libertação ?!
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 19:06
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Sexta-feira, 3 de Janeiro de 2025

As Palavras

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Obedecem-me agora muito menos,
as palavras. A propósito
de nada resmungam, não fazem
caso do que lhes digo,
não respeitam a minha idade.
Provavelmente fartaram- se da rédea,
não me perdoam
a mão rigorosa, a indiferença
pelo fogo de artifício.
Eu gosto delas, nunca tive outra
paixão, e elas durante muitos anos
também gostaram de mim: dançavam
à minha roda quando as encontrava.
Com elas fazia o lume,
sustentava os meus dias, mas agora
estão ariscas, escapam-se por entre
as mãos, arreganham os dentes
se tento retê - las. Ou será que
já só procuro as mais encabritadas?
 
"O sal da língua [1995]", in Eugénio de Andrade, Poesia, s/l,Fundação Eugénio de Andrade, 2000, pp. 527- 528
__________________________________________________________________
 
Já estamos no terceiro dia descontado a 365 deste espaço medido a que, decidimos chamar ano e dividir em meses.
Tentei convencer-me a vir aqui fazer, todos os dias, o diário do ano do jubileu, o ano da libertação dos escravos e do perdão de todas as dívidas.
Era assim que os antigos hebreus o viam de 50 em 50 anos.
Encontramos uma primeira ideia disto na Bíblia: o ano jubilar tinha que ser convocada a cada 50 anos, já que era o ano “extra”, a mais, que se vivia cada sete semanas de anos (cf. Lv 25,8-13).
 
Ainda que fosse difícil de realizar, foi proposto como ocasião para restabelecer uma correta relação com Deus, entre as pessoas e com a criação, e implicava a remissão de dívidas, a restituição de terrenos arrendados e o repouso da terra, a libertação de outros homens e mulheres.
 
Mas, dizia eu que, queria cumprir este propósito de um diário do ano do jubileu, quem sabe da oportunidade de me libertar e organizar, beber os tais litros ( imensos ) de água, ler mais (daquilo que vale a pena ler ), apanhar sol (ao ar livre de preferência), e … fazer exercício….
Tantos propósitos 🥴
 
Este é o -3 de 365 e a foto é do Primeiro Dia do Ano.
Na verdade não ando muito criativa, nem sequer consigo encadear as palavras de forma leve e empática …
 
Sei que há momentos na Vida que nos tiram aquele portal da imaginação, da chuva de letras que formam ideias e arrebatam palavras,… e ficamos como que presos nesses momentos, regressamos a eles muitas vezes… não devíamos.
Um dia virá que serão apenas memórias de sorrisos mas agora tiram-me o espaço de ficar sozinha com a escrita, nem sequer consigo isolar-me nela.
 
Entre uns papéis para organizar, uns cálculos para fazer, projetos para dar forma, hei de, em tantos dias, conseguir .
Amanhã não haverá sol e domingo parece que chove…
Tudo bem, há sempre um livro, um filme e, cá em casa, uma lareira.
Tenham um serão agradável, amanhã é sábado, e durmam o sono dos justos.
 
Até Amanhã
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 19:12
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Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024

Momentos

 

 

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Há momentos que nos soltam a infância e fazem de nós pessoas boas.

Na verdade, precisamos de sinais, como  sol, neve, mar, sons de praia no Verão, cheiro a canela e laranja, a cidra quente,  som de lareira a crepitar e talvez, também, a sensação de frio na cara.

Subir uma motanha e ver chover flocos de neve que, tudo cobrem de branco e fazem acontecer  as paisagens dos filmes de criança   à distância do comprimento do coração à ponta dos dedos,... isso  faz de nós homens bons e mulheres enormes.

Deixar que o momento nos envolva  e viver apenas  a sensação de sentir o que acontece em redor com os 5 sentidos,... é sublime.

Ser criança de novo é bom, talvez seja só necessário deixar que a criança que somos desperte e respire. Liberta-te!

ACCB

escrito no papiro por ACCB às 12:11
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Sábado, 30 de Novembro de 2024

Fernando Pessoa sem óculos

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Fernando Pessoa morreu no inicio da noite do dia 30 de novembro de 1935.
Poucos minutos antes de partir proferiu as suas últimas palavras.
“Dê-me os óculos”…
___________________________________
Fernando Pessoa sem óculos


Dizem que apenas Álvaro de Campos preferia usar o monóculo na ordenação furiosa que dava às palavras.
Todos os outros usavam os tais óculos de astes finas cujas lentes escondiam os olhos castanhos perscrutadores das almas e dos silêncios, muitas vezes dos pontos ocultos no centro do ruído.

Um Mundo!,... esses olhos em frente à alma, às almas de Pessoa por de trás das lentas que não lhe aumentavam o sentir, apenas lhe devolviam as imagens quase em tamanho real...
... ... O que é a realidade?...


"A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser completo."


Será?
A partir do momento em que pronunciamos uma palavra, uma frase, ou damos corpo a uma ideia, elas existem e existem como quisermos que sejam ou como quiserem que sejam e entenderem que são?
Uma ideia é várias coisas? Todas as que cada um entender que pode ser ou que é , até a dúvida de que o seja... Ou uma ideia não é mais do que aquilo que é se não se materializar. E não se materializa a partir do momento em que tem corpo de palavras ou som de voz?...


"Uma vez chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer coisa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo."


Catalogamos, ou adjetivamos o que vemos, o que nos chega transmitido pelos sentidos dos outros.
Não há uma fórmula para sentir...

É por isso que a inteligência artificial não sente...Ou poderá vir a sentir?
Não me cabe na ideia que seja possível que venha a sentir, teria de ter hormonas e não tem. Saberá das reações a palavras e comportamentos o algoritmo, mas não saberá senti-los de acordo com as várias possibilidades dos vários sentires, dos vários grupos hormonais...

"Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.
Não me ponho a pensar se ela sente.
Não me perco a chamar-lhe minha irmã.
Mas gosto dela por ela ser uma pedra,
Gosto dela porque ela não sente nada,
Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.
Outras vezes ouço passar o vento,
E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido."


Os óculos de Fernando Pessoa são míopes e não o são por verem mal ou diminuirem as coisas,... antes por as esmiuçarem ao ínfimo sentimento, num esforço de as entenderem.


Deu-me para pensar como veria ele os avanços tecnológicos quase 100 anos depois, como encararia a IA....
E se Fernando Pessoa tivesse sido operado à miopia?
Mesmo assim acho que pediria os óculos nos últimos minutos.
Faziam parte dele, do seu sentir e do seu pensamento, como teria podido deixá-los para trás?!... Às vezes penso que não via através deles... via antes de chegar a eles, do lado de fora dos ditos...depois recuava e escondia-se atrás deles e ficava a aumentar as imagens, os gestos, os sentires ... e escrevia languidamente, ao correr do pensamento solto, sem análise prévia, analisando e criando como quem faz o caminho... numa preguiça analítica... destrutiva, quase caos para depois ser criativa....

E se Fernando Pessoa nem fosse míope?
E se não era?
E se os óculos eram apenas para partir para os Mundos (todos), em que vivia?
.... - "Dê-me os óculos"......"Eu nem sequer sou poeta: vejo."
ACCB
____________________
(...)
"Está bem, ficarei aqui sonhando versos e sorrindo em itálico.
É tão engraçada esta parte assistente da vida! Até não
consigo acender o cigarro seguinte… Se é um gesto, "

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escrito no papiro por ACCB às 20:07
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Domingo, 24 de Novembro de 2024

Tens chuva? Voltaste a fumar?

 

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Tens Chuva?
 
Voltaste a fumar?
 
Não,...mas sabia-me bem. Tens chuva?
 
Ainda há pouco chovia por aí...toda a tarde.
 
Pois foi... e acabei por não comprar.
 
Mas ,...faz-te assim tanta falta?
 
Tanta pergunta!...
 
Mas olha lá, tu não fumas!
 
Bem! Tens chuva ou não?!
 
Não. Só comprei castanhas,... queres? Ainda estão quentes.
 
( E continuou a leitura do livro)
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 23:47
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O Vento lá fora

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Tem um vento quente lá fora
Canta baixinho que vai chover e vem aí um tempo tal que é melhor ficar em casa
 
Apetecia-me um livro em vez de um acórdão... Apetecia-me gente viva em vez de gente estática a viver à espera
E é pela espera da gente que não opto pelo livro...
 
Fica-me a angustia enovelada no peito,... já podia ter fugido, levantado âncora ou voado... mas fico, sempre agarrada a esta espera de deixar o que sempre fiz...Tem doença nisto, só pode.
O vento quente lá fora bem podia ser nos trópicos, não era tão estranho o seu rodopiar, tal qual este ficar ... não por não saber fazer mais nada,... talvez por saber que não fiz nada....
 
Neste 40 anos de espera da gente, que fiz eu? O que mudei? O que criei...
 
Não farei balanços,... quando for irei.. porque há mais além e há mais missões... e quem abraça estas coisas de alma... nunca acaba o que começa... porque o que começa tem sempre mais um degrau, uma queda e um subir ...um descer para voltar a subir... a fazer... a acabar com esperas porque há novas esperas à espera.
 
Tem um vento quente lá fora, já ameaça os vidros que anoiteceram e diz que as plantas deviam ser mais baixas na minha varanda.
Não sei o que traz por aí a noite, mas espera-me um acórdão com gente à espera.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 19:00
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Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024

Não tenho ambições nem desejos.


 

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Não tenho ambições nem desejos.

ser poeta não é uma ambição minha.

É a minha maneira de estar sozinho. 



Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz

E corre um silêncio pela erva fora.



Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar…



Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…

Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,

Porque eu sou do tamanho do que vejo

E não do tamanho da minha altura…



A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as coisas.

Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas

Quando a gente as tem na mão

E olha devagar para elas.

Fernando Pessoa.

escrito no papiro por ACCB às 12:41
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Quinta-feira, 21 de Novembro de 2024

INSÓNIA

 
INSÓNIA
 
 
Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.
Espera-me uma insónia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.
 
Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!
Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!
 
Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
 
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam —
Todas aquelas de que me arrependo e me culpo —;
 
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam —
Todas aquelas de que me arrependo e me culpo —;
 
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.
 
Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
 
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.
Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!
Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
 
Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo excepto no poder dormir!
 
Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperanças,
Segundo a velha literatura das sensações.
Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
 
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
 
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
 
Vem, madrugada, chega!
Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
 
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.
Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exactamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras,
 
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exactamente. Mas não durmo.
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Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 273.

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escrito no papiro por ACCB às 21:25
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Aos Amigos

 

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"Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado/Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos/com os livros atrás a arder para toda a eternidade/Não os chamo e eles voltam-se profundamente/dentro do fogo/-Temos um talento doloroso e obscuro/Construímos um lugar de silêncio/De paixão"

Aos Amigos -- Herberto Helder.

escrito no papiro por ACCB às 21:20
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DEUS

 
 

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À noite, há um ponto do corredor
em que um brilho ocasional faz lembrar
um pirilampo. Inclino-me para o apanhar
- e a sombra apaga-o. Então,
levanto-me: já sem a preocupação
de saber o que é esse brilho, ou
do que é reflexo.
Ali, no entanto, ficou
uma inquietação; e muito tempo depois,
sem me dar conta do motivo autêntico,
ainda me volto no corredor, procurando a luz
que já não existe.
 
Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"
escrito no papiro por ACCB às 21:18
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Quarta-feira, 20 de Novembro de 2024

Os teus olhos têm reflexos verdes

 

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Tens de ver se os teus olhos têm reflexos verdes ou se por acaso será desse teu brilho na voz . Será que é porque parece que quando chove à tua volta, o chão fica daquele verde dourado que cobre os mantos das damas, de noite, pelos castelos? Ou saíste de um livro em que os contos de fadas têm personagens reais?


Olha deixa lá, não penses mais nisso, parece-me mesmo que é do reflexo verde do brilho do teu olhar.
Também podia ser dessa tonalidade azul que dás à voz ou do vermelho dos gestos que te caracteriza,....

Sinceramente não sei. Não sei, assim como não sei porque ponho reticências a seguir às virgulas quando penso o que escrever a seguir... porque, isto de escrever é só quando não se pensa, sai assim, de repente, como uma ideia que não se deve conter, como quando de noite temos ideias brilhantes e a seguir adormecemos.

Não voltam,.... perderam-se nos sonhos.
Tudo tem uma razão, uma causa, uma sequência e a tua é a do reflexo.

Às vezes apetece-me espreitar do outro lado, mas encontro sempre o mesmo verde, o mesmo azul e o mesmo vermelho, como uma bandeira que acenas e com a qual dizes que te recusas a seguir o mesmo trilho já trilhado...
Tens de ver se os teus olhos têm reflexos verdes....

ACCB

escrito no papiro por ACCB às 21:31
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Terça-feira, 19 de Novembro de 2024

Carta ao director do Jornal


 

[Carta ao director do Jornal do Comércio - 14 Abr. 1928]



Lisboa, 13 de Abril de 1928.

 

 

Exmo. Senhor Director do Jornal do Comércio:

 

No artigo de Augusto da Costa, inserto hoje no Jornal do Comércio, e em uma honrosa transcrição, que nele se faz, do meu folheto recente O Interregno, encontra-se uma gralha, de uma só letra, que, por fazer sentido num sentido errado, peço a V. Exa. licença para apontar.

No final d'essa citação está impresso o seguinte: «Nem, no longo e triste curso das três dinastias filipinas — a dos Filipes, a dos Braganças, e a República — houve mais que a minguada e passiva estirpe dos Sebastianistas liberais que em algum modo mantivesse viva e amada a memória da alma de Portugal».

 

Não escrevi liberais: escrevi literais. E, como é de ver, com esta palavra literais entendi designar aqueles velhos Sebastianistas que tomavam à letra o Regresso profetizado de El-Rei D. Sebastião, Nosso Senhor; que enganadamente supunham pessoal e carnal esse Regresso. Implicitamente os opus àqueles outros Sebastianistas que, como Augusto da Costa e eu, esperamos e confiamos nesse Regresso no seu alto sentido simbólico, que é o verdadeiro.

De V. Exa., respeitosamente,

 

 

Fernando Pessoa

escrito no papiro por ACCB às 21:16
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Quinta-feira, 6 de Junho de 2024

Aproveita o dia

 

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Aproveita o dia,
Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.
Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.
Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.
Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.
Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.
Somos seres humanos cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.
Não caias no pior dos erros: o silêncio.
A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.
Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.
Não atraiçoes tuas crenças.
Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.
Isso transforma a vida em um inferno.
Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.
Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.
Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.
Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.
Não permitas que a vida se passe sem teres vivido...

escrito no papiro por ACCB às 00:59
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Segunda-feira, 3 de Junho de 2024

O livro

Deixei cair a frase...
Tinha música mas não se ouviu
Perdi a melodia
Já não sei o que dizia nela
Mas falava do começo de um livro
Melhor, era o começo de um livro.
Assim, do nada,...como quando nos morre
uma pessoa querida que faz parte de nós
a vida toda... mas parte.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 10:54
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Quinta-feira, 30 de Maio de 2024

O impulso para a escrita

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O impulso para a escrita emana de um conjunto de factores aleatórios e irrepetíveis.
É a hora, o local que pode ser de pressa, a caminho do aeroporto, a música que toca no rádio do carro silencioso, o olhar do condutor fixado automaticamente na estrada.
 
Há tantos fatores momentâneos, que não se conjugam sempre e, na maior parte das vezes , não se conjugam mais.
E sentimos, sim agora escrevia um livro, a primeira parte ou, outra parte daquele que já se andava a escrever e parou como quando se suspende a leitura de um de muitos livros que dormem na mesa de cabeceira mas nunca têm pó.
 
Sabemos pelo pó dos livros há quanto tempo ninguém olha para eles, como quem não olha mais para um amor gasto de tanto conter sempre os mesmos gestos e rotinas.
 
Mas os livros são seres assim cheios de mundos, com portais para vidas que nunca foram vividas a não ser no papel, conspirações que podiam ser levadas a cabo na realidade que não sabemos se não é só já virtual.
Será que vivemos outra dimensão ou também noutra dimensão ?!
 
E qual delas é a real? A do momento à pressa a caminho do aeroporto ou a outra onde isso ainda não aconteceu, ou talvez aquela onde nem há aeroporto.
E se fôssemos todos células de um grande ser? Mitocondrias de um grande sistema, ínfimos pormenores de um universo maior que o imaginado.
 
No carro o rádio insiste na música, é antiga e agradável, mas não a fixo porque entretanto faço um check In mental dos documentos que trago comigo para mais à frente me enfiar numa máquina que voa durante duas horas até ao destino…
 
E para quando o teletransporte?!
E se fica alguma coisa para trás ?!por exemplo um braço , um nariz, a língua !!! senhores,… a língua !….
 
Terminal 1.Chegámos. Penso que estive a tomar banho mas, o carro com os pneus em baixo e um cheiro de quem não tem o duche matinal, faz-me pensar quando o condutor abre o porta bagagens , felizmente, não tem lá outro a dormir atrás.
Mal fala o português mas sorri em qualquer língua.
E os sorrisos como diz o poeta, abrem as portas.
 
 
Saio em direção à segurança, há que deixar formalidades cumpridas rapidamente para depois desfrutar a observação dos passageiros do tempo, para cá e para lá, enquanto eu espero o meu espaço na viagem.
Viajar e ler, portas para tantos mundos sem portas.
Um prazer conseguido tão raramente que, na reta final de uma carreira que passou num ápice, ambicionas aeroportos, livros, músicas que conheces mas esqueces onde ouviste a última vez.
 
Guardar sabores, conjugações únicas e irrepetíveis, locais, memórias…registar os momentos, as pessoas, os sonhos, as Vidas, as realidades ainda que paralelas…
Viver os espaços de paz e civilização até que um louco qualquer ameace trocar o guião.
 
 
É assim que a minha geração que nasceu num Mundo saído da guerra e viveu em direção à tecnologia e à ciência, não se conforma com um retrocesso.
Há que ocupar as vontades de vida e não de sofrimento, há que exigir aquilo a que temos direito, há que provar que este espaço habitável não é um mundo de guerra e que, aqueles onde o conflito se foca, não podem expandir-se e devem ser severa e rapidamente parados.
 
Já me alonguei demasiado … Se os vossos olhos me lerem,… diga-me das vossas verdades ainda que pensem que nesta fase da Vida eu já não devia desejar mudar o Mundo.
Senhores passageiros peço-vos que coloquem os cintos, endireitem as costas da cadeira.
Vamos começar a descer … …
Bom feriado.
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 00:39
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Domingo, 26 de Maio de 2024

A sustentação do poeta

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O que sustenta o poeta não são grandes coisas
Umas paredes com livros
Uma janela à direita a derramar Sol
Um papel ou algo onde escrever
Muito silêncio
depois do ruído de tudo
 
Um interiorizar os dias e os sobressaltos
Os olhos postos em nada
E a magia do impulso de não saber o que vai escrever….
E escreve
 
 
 
Escreve a Vida lá fora
Sobre o que os sentidos lhe dizem que sentiu
Define as sensações às existências
Conta como vai por dentro depois de ser atingido pelas “coisas”
que acontecem no ângulo morto
do seu sentir
 
 
E diz quem escreve, que
o ângulo morto
é o tal soslaio de que falava Fernando Pessoa
Quando lia o livro de Cesario Verde
 
ACCB
escrito no papiro por ACCB às 12:12
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Segunda-feira, 20 de Maio de 2024

As Palavras

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“O facto de as palavras desencadearem algo nos outros,
de poderem pôr alguém em movimento ou de travar esse impulso,
de fazerem com que uma pessoa pudesse rir ou chorar,
sempre lhe parecera estranho.
Desde criança.
E no fundo isso nunca deixara de o impressionar.
Como é que elas conseguiam isso?
Não era como a magia?”
 
 
Pascal Mercier "Comboio Nocturno para Lisboa"
 
( Imagem - Sala Clementina no Vaticano)
escrito no papiro por ACCB às 19:00
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Quinta-feira, 16 de Maio de 2024

CAMINHO

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Na marcha pelo deserto eu sabia
Que alguns morreriam
Mas pensava sob o céu redondo
—Onde
O limite do meu amor da minha força?
E eis que morro antes do próximo oásis
Com a garganta seca e o peso
Ilimitado do sol sobre os meus ombros
Eis que morro cega de brancura
Cansada de mais para avistar miragens
Eu sabia
Que alguém
Antes do próximo oásis morreria
 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen in OBRA POÉTICA
GEOGRAFIA
escrito no papiro por ACCB às 08:19
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Quinta-feira, 9 de Maio de 2024

Remoinho

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Escorre o tempo  entre os ponteiros do relógio e a curva da sombra dos dias

 O Sol precipita-se nas ruas de Lisboa

 Ainda há pouco cheguei e já sinto a tarde na Rua do Arsenal

 Tudo muito súbito

 Tudo muito rápido desde 2007- 17 anos

Iguais, repetitivos, mas cada vez mais vertiginosos 

 E nem eu ligo a isto

 

 Não são só os indiferentes que não ligam

Não são só os intelectuais que não ligam

 Não são só os que só têm uma vida que não ligam

 Também eu, que sinto as vidas que vivo e as que ainda quero viver,

pareço alheia à vertigem do tempo

 

É só quando o sol, ao fundo, na Rua do Arsenal 

 se pinta de dourado e quente

que, antes de entrar no carro, vejo que já me custa tanta calçada portuguesa e

tantos dias iguais às pedras de Lisboa

 

Conheço-as todas pela luz da sombra dos dias



ACCB

escrito no papiro por ACCB às 12:25
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Sábado, 4 de Maio de 2024

POEMA



Cumpridos os deveres compridos deixaram
De assediar minhas horas

Doce a liberdade retoma em si minha leveza antiga

 

Sophia de Mello Breyner ILHAS

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______
Cumpridos os deveres
Compridos e dolorosos
Enrolados
Atravessados
Indesejados por mim
sofridos pelos outros
Cumpridos esses deveres
Dêem me uma folha,
uma caneta
( não uma esferográfica),
E se eu adormecer, não exausta , mas exaurida como os deveres compridos e cumpridos

rezem por mim uma oração pelos dias que nos fazem ter deveres compridos e nos fazem cumpri-los.

ACCB ( Adelina Barradas de Oliveira)

escrito no papiro por ACCB às 00:50
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Quinta-feira, 25 de Abril de 2024

As Mãos

Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema - e são a terra.
Com mãos se faz a guerra - e são a paz.
 
 
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas, mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
 
 
E cravam-se no tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor, cada cidade.
 
 
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.
 
 
 
Manuel Alegre. As mãos. In. “O Canto e as Armas”.
 

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escrito no papiro por ACCB às 11:51
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Quarta-feira, 24 de Abril de 2024

As Portas Que Abril Abriu

As Portas Que Abril Abriu (1975)
Letra e interpretação: José Carlos Ary dos Santos

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da cerviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
que partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
mas já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
o povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.

Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez enxadas
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se desdobravam
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.

Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos
uma alternância de terços
entre ricaços e bufos.

E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história
que os capitães descobriram
que ficará na memória
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal
capitães que na Guiné
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios
para o trabalho crescer.
Guindastes portos navios
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio
é preciso é aquecer
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho
na Beira com requeijão
e trocando agora as voltas
ao vira da produção
no Alentejo bolotas
no Algarve maçapão
vindimas no Alto Douro
tomates em Azeitão
azeite da cor do ouro
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro
nos campos do Baleizão.
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
um menino que sorriu
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava
a sua própria grandeza!
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!

escrito no papiro por ACCB às 01:28
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Terça-feira, 23 de Abril de 2024

Abril Letras Mil

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23 de abril de 2022 
Conteúdo partilhado com: Os teus amigos e amigos de Licínia
 
 
 
Eu agora acordo com o Sol.Nao sei se é da idade porque, ânsia de viver sempre tive e sempre achei um desperdício dormir mais de metade das 24horas que atribuíram ao dia.

Aproveito a primeira hora para ler notícias, todas iguais e algumas copiadas de jornais internacionais.

Também passo os olhos pelo face e sinto que cada vez me surpreende menos a Babel que por aqui se instalou ...
Estarei a ficar velha por isso ou se pelo acordar cedo ou pelas duas coisas ou só porque já vivi uns anitos?!

Li há pouco que não havia cravos em Portugal no 25 de Abril de 1974
Fiquei logo com vontade de confirmar a razão de ciência da afirmação
Dizem uns que vieram na véspera, de avião, encomendados, de um país estrangeiro ali para a América do sul.....

Vou averiguar isso....tenho de descobrir se foi assim....mas se foi pelo menos seriam para vender no mercado da Ribeira e no Rossio....ou será que o Jaime Neves, o Salgueiro Maia e os restantes capitães de Abril, para além de projetarem a revolução, encomendaram os cravos?....

E também li entretanto, nesta madrugada de 23 de Abril de 2022 que o cravo é o símbolo da Banca e que o que a Banca queria era dominar tudo.....

E fiquei de novo com vontade de tirar isso a limpo ...

Será que esta minha mania de romancear e fazer poesia em tudo, me tem mantido enganada quanto aos cravos ?!....

E quanto aos capitães?! Aos de Abril, claro!
E quanto ....na ...não vou perguntar mais nada.
Acordei cedo de mais .....vou mas é tomar um duche arranjar-me e tomar um grande café .

Tinha para mim que sempre houve cravos, que o cravo é uma flor perene, sempre foi, que floresce em climas como o nosso no final da Primavera .....

Mas vou tirar a limpo essa da encomenda internacional de cravos vermelhos chegados no dia 24 para lançar a 25.... a mando da Banca ..

Neste madrugar li ainda por aí, por razões diferentes, que um grupo de gente boa sente que está a ficar tudo doido.....

É ....deve ser isso porque eu também o sinto.

Bom dia e bom sábado...está Sol ☀️
Vou preparar-me para um delicioso café, organizar uns papéis, deitar um olho à justiçA com A que sairá neste mês de Abril, fazer a prova de um vestido para um casamento e, à tarde, vou até Mafra... saber da queda de umas falésias que não quero perder....porque hoje é dia Mundial do Livro não é minha amiga Licínia Quitério ?!

Divirtam-se e façam o favor de não ter medo da Vida

ACCB
escrito no papiro por ACCB às 10:20
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Sábado, 20 de Abril de 2024

O Mar dos Meus olhos - Anda por aí

 

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escrito no papiro por ACCB às 10:21
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Quinta-feira, 18 de Abril de 2024

A BOA HORA - em boa hora

 
Que fizeram ao Tribunal da Boa Hora?
 
Sempre será um Museu da História do Judiciário?
 
Já agora, voltaremos a ver esta peça de teatro representada na Boa Hora?!


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escrito no papiro por ACCB às 18:27
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Obstáculo à Paz

Este Livro devia ser lido por todos
Tem em si um trabalho de fundo atualíssimo que não deixa o que nos trouxe até aqui esquecido, até aos dias de hoje, ao abordar o tema.
Num Mundo que volta a viver Guerras,
tráfico de seres humanos,
ondas de refugiados,
este livro alerta não para o que já sabemos, mas para o que devemos saber.
 
Parabéns Raquel Véstia.
 
 
 

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escrito no papiro por ACCB às 10:24
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Segunda-feira, 11 de Março de 2024

Imagem à espera de um Conto

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escrito no papiro por ACCB às 11:58
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Uma Delícia

 

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"A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de modo que a dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo. Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza gosta do sabor amargo.
Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole.
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…"
 
 
Registo da antropóloga Paola Klug

 

escrito no papiro por ACCB às 11:55
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Março

 
 
 
 

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Março voltou
Março voltou, esta
ácida loucura de pássaros
está outra vez à nossa porta,
o ar de vidro vai direito ao coração.
Também elas cantam, as montanhas:
somente nenhum de nós
as ouve, distraídos
com o monótono silabar do vento
ou doutros peregrinos.
Já sabeis como temos ainda restos
de pudor
e pelo mundo
uma enorme, enorme indiferença.
 
 
 
Eugénio de Andrade. In "Branco no Branco"
escrito no papiro por ACCB às 11:54
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Sábado, 17 de Fevereiro de 2024

................

 
 
 
Lido por aí e Surripiado porque é verdade 🙂
 
"Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar. E há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo".
 
 
Pedro Mexia
 
_____________________________________________
Ou é da chuva ou é do mau feitio. Cai-me cá dentro uma vontade de dizer umas coisas que me deixa sem necessidade de tempero na salada do almoço. Tenho o forno em temperatura alta, a fugir do convencional. Cheira bem ... Almoço e depois logo vejo como fico. Pode ser que esta sensação seja da hora....
 
ACCB
_____________________________

A porcaria da publicidade em qualquer clip que se quer ver e que não se pode saltar... irrita-me. É uma forma de condicionar a minha liberdade a aceder de imediato ao que quero ver.

ACCB
 
_______________________


 
escrito no papiro por ACCB às 13:06
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Onde

Onde será esta hora em que o Sol caminha pelo tempo e se esconde das horas do outro lado da Vida?
ACCB
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Alguém respondeu : "Ao acender das candeias" -

Hermengarda Valle de Frias

 

escrito no papiro por ACCB às 12:55
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