"A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de modo que a dor ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo. Havia que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, porque iria fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a tristeza nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza gosta do sabor amargo.
Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo, prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede capaz de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como a espuma do atole.
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a tua tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…"
"Ficamos sozinhos quando somos exigentes. Ficamos sozinhos quando não mentimos. Ficamos sozinhos quando defendemos as nossas convicções. É um preço que estou disposto a pagar. E há, digamos, dez pessoas de quem gosto, dez pessoas sobre quem não me enganei, e dez pessoas é um mundo".
Ou é da chuva ou é do mau feitio. Cai-me cá dentro uma vontade de dizer umas coisas que me deixa sem necessidade de tempero na salada do almoço. Tenho o forno em temperatura alta, a fugir do convencional. Cheira bem ... Almoço e depois logo vejo como fico. Pode ser que esta sensação seja da hora....
ACCB
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A porcaria da publicidade em qualquer clip que se quer ver e que não se pode saltar... irrita-me. É uma forma de condicionar a minha liberdade a aceder de imediato ao que quero ver.
Vêm lá do fundo Este para pousar ao pôr do sol a Oeste
Sobressaltadas talvez pela Paz que julgam encontrar no fim do dia.
Não há paz no fim do dia. Só à sexta,... e dura pouco... Dura só o momento de pensar que vai haver paz porque vai começar aquilo a que chamam fim,.. fim da semana,... da semana que passou, que nos deu cabo da cabeça,... que nos roubou o tempo e os dias... e a paciência.
Elas reunem-se para fazer o resumo da vida que levaram durante o dia.
Também nunca percebi porque vêm todas do mesmo lado, para o mesmo lado, e param todas no mesmo lado.
Andam em bando, são provocadoras, barulhentas, desalinhadas, fazem tempestades em terra, têm mais asas que barriga,...
Mas são livres... ... ...
......
Há quem diga que também são ladras...
e assassinas de pombos...já não bastava os humanos assassinarem os pombos,... envenenarem os pombos...
Dizem que são modas....
Eu lembro-me de ser pequena e ir dar milho aos pombos do Rossio,... assim como que num ritual... com dia marcado e tudo. E havia muitos e as pessoas até lhes achavam graça....
São modas ....
As gaivotas eram livres
Os pombos eram livres
Agora as gaivotas são assassinas e porcas e os pombos são uma praga.
Como dizer te que não tem nada que ver com isso? A gente prolonga se através deles e se partem levam nos tudo,... com eles.
Não te sei dizer... é como quando nascem... não há palavras. É amor à primeira vista, uma paixão de alma de que não há cor para definir ... Não há adjectivo que superlativo ou comparativo defina o sentir.
Se partem...também é assim.
Confusão de sentir ... Um vazio... sem cor ...sem som...definitivo. Mortal.
Mas se não tê-los (sabes?), é como diz o poeta: "como sabê-los"?!
Senta te aí e não digas nada. Pensa que o silêncio fala melhor nestas situações.
Pensa assim:
É como quando são adolescentes e barafustamos com regras barulhentas.... Eles não ouvem.
Como quando vão de viagem e te calas ao lado deles à espera do avião. Partias com eles... mas vão felizes sozinhos e esperas que regressem felizes. Essa é a tua felicidade, o reencontro e o brilho nos olhos deles.
Senta te aí....
Não há palavras, nem cor, nem adjectivo superlativo ou comparativo.
Cada partida é diferente. Umas têm regresso outras aguardam-te num tempo sem tempo.
+24°C Na Amareleja já põem um cobertor para dormir. +19°C Na Madeira ligam o aquecimento e começam a guardar víveres para o caso de ficarem isolados. +8°C Os carros italianos já não pegam. 0°C A água congela. -1°C Abres a boca e o bafo parece fumo. Os de Montalegre estão nas esplanadas a comer gelados ou a beber finos... -4 °C O gato enfia se na tua cama. A CMTV vai às Penhas da Saúde entrevistar turistas porque a estrada para a Torre está fechada (o primeiro que entrevistam é sempre brasileiro) -10 °C Os carros franceses já não arrancam. -12°C A TVI diz q é o fim do mundo e mostra imagens de camiões tombados na berma da estrada. -15°C Os carros alemães já não pegam. -24°C O gato mete se na tua cama, dentro das tuas calças do pijama. -29 °C Os carros japoneses já não arrancam. -30 °C Já porra de carro nenhum normal arranca. -36 °C Os carros russos não arrancam. -39 °C Os de Montalegre apertam os botões da camisa. -50 °C Um carro italiano mete se na tua cama. -60 °C Os russos estão congelados. Os de Montalegre começam a apertar os casacos. -70°C O Inferno está congelado. -120°C Todo o álcool congela. Os russos começam a ficar nervosos. -273 °C Zero absoluto! As moléculas deixam de mexer. Os russos começam a lamber vodka congelada. Os de Montalegre levantam se das esplanadas e vão para dentro das tascas... ...
“Conforta-me pensar que a vida não começa nem acaba aqui. Um dia regressaremos ao lugar de onde viemos, um lugar de repouso e de paz, um lugar livre de mágoas. Mas quantos lugares de dor teremos de atravessar para alcançá-lo? Quanta tristeza, quanto sofrimento, quanta crueldade no destino do Homem!
E se o mundo é repleto de maravilhas é só para não perdermos de vista a morada original, que nos aguarda ao fim dos nossos doze trabalhos de Hércules, e a que os poetas e os místicos chamam paraíso e eu chamo, simplesmente, amor. As guerras fazem-se para alcançar a paz, ensinaram-nos durante séculos.
(...)O sofrimento serve para alcançar a bem-aventurança, invento eu, para não morrer de desespero.”
Há os dias, os tais das memórias que ainda doem, mas há os outros, os dias das memórias que nos trazem os risos, as histórias, os poemas declamados do alto de uma cadeira no meio de uma sala em que todo o público eras tu mas havia muita luz, muito palco e muitos aplausos…
E há os dias dos medos em que só a tua voz me acalmava e dava força , como se puxasses uma cortina e todo o sol do Mundo me inundasse cheio de coragem…
Faz 7 anos… Para mim as datas marcantes têm sempre algo de inesquecível, relacionam-se com outras datas e ganham significado e força …
Faz hoje 7 anos que fisicamente partiu o teu corpo,… faz 1 ano que algo aconteceu e marcou um momento bom e bonito para a tua neta,… vão fazer 7 anos que nasceu o teu primeiro neto…
O mês que levou a tua presença física trouxe duas continuações tuas… dois netos meus, do teu neto, uma a 3 outro a 30…
Os números e eu!…
Mas do que sinto falta por vezes é dessa tua força e da confiança que me incutias.
Há pessoas assim, que desvanecem os medos…
Faz 7 anos e hoje está nevoeiro, frio, ainda nem vi o mar…
Prometo que assim que o sol rasgar os medos vamos até lá.
Bjs Mãe … é uma palavra que também visto e acho que me fica bem.
"Se eu morrer antes do meu cão, permita que ele veja meu corpo.
Ele compreende a morte;
se sentir minha ausência, poderá chorar por mim. Caso não me veja novamente, pensará que o abandonei e continuará aguardando meu retorno. Se eu partir antes de meu companheiro, permita que ele se despeça de mim.
Os cães representam uma amizade infindável, um amigo leal, uma parte da vida e uma razão para existir!' "
Ficou o que resta de mais um Natal na esperança do próximo
Até lá muito tempo pelo meio feito de 4 estações e 12 meses, movimentos de rotação e translação, notícias convenientes em catadupa, medos, e outros que tais, tomarão lugar nos nossos dias.
Ressoam passos na praça enorme onde dizem que mora ao fundo, a caminho do Tejo, a Ribeira das Naus.
O silêncio da noite, se ouvido com atenção, ainda nos fala de revoluções, assassinatos e terramotos.
Fico a ver e ouvir… deixo os pensamentos e escuto.
Só o Tejo sobe os degraus do cais das colunas com a maré, e volta atrás,… num balancear, … como quem canta uma canção de embalar.
As Fotografias antigas guardam as pessoas como elas eram no tempo em que o tempo não passava por elas.
Às vezes olhamos para dentro das fotografias e percebemos que fomos bonitas, tínhamos um ar sereno e por viver, alegre de tudo por saber e (sem dificuldade), éramos muito magrinhas.
Depois, com o tempo acumulámos gorduras e traços como quem acumula fotografias mas essas, ficaram lá atrás num momento, planas, estáticas no papel mas falantes, gritando que já fomos assim, no pretérito perfeito.
Era preciso chegar ao presente para nós vermos quando éramos, quando fomos, e tudo estava por saber e viver, acontecer.
Começámos com uma sobrancelha levantada, um toque de sorriso sempre puxando os lábios para cima, um olhar ausente ou perspicaz, observador ou apenas vivo mas, sempre vazio de sobressaltos.
As Fotografias são caixas de memórias que nos perguntam o que foi que passou por nós, o que foi que nos fez ceder à gravidade do planeta e dos seres, o que foi que nos desenhou outro rosto, outros cantos da boca e outra arcada supraciliar....
.....
Até há por aí quem devolva as arcadas supraciliares, quem puxe os cantos da boca como quem puxa o pano da boca de cena, até há quem leia as fotos e apague alguns traços... mas, apagar o que os desenhou não há.
As Fotografias são umas delatoras como o espelho mágico da madrasta da Branca de Neve, alçapões destinados à cena para que tudo vá correndo bem na ribalta.
Senhor contra-regra batam-se as 7 pancadas de Moliére.
Neste exato instante em que seus olhos passam por estas linhas, está ocorrendo um pequeno milagre da tecnologia. Não, não estou falando do computador nem da transmissão de dados pela internet, mas da boa e velha leitura, inventada pela primeira vez cerca de 5.500 anos atrás.
Para nós, leitores experimentados, ela parece a coisa mais natural do mundo, mas isso não passa de uma ilusão. Ler não apenas não é natural como ainda envolve cooptar uma complexa rede de processos neurológicos que surgiram para outras finalidades.
Acho que dá até para argumentar que a escrita é a mais fundamental criação da humanidade. Ela nos permitiu ampliar nossa memória para horizontes antes inimagináveis. Não fosse por ela, jamais teríamos atingido os níveis de acúmulo, transmissão e integração de conhecimento que logramos obter. Nosso modo de vida provavelmente não diferiria muito daquele experimentado por nossos ancestrais do Neolítico.
A importância da leitura e a relativa clandestinidade neurológica em que ela ocorre justificam um exame mais acurado. E, neste caso, um dos melhores guias é o matemático e neurocientista francês Stanislas Dehaene, autor de "Os Neurônios da Leitura", que ganhou este ano uma edição brasileira.
Dehaene começa sua obra descrevendo o que chama de paradoxo da leitura. Está mais do que claro que nosso cérebro não passaram por um processo de seleção natural que os habilitasse a ler. A primeira escrita, vale lembrar, tem poucos milhares de anos, tempo insuficiente para que tenha deixado marcas mais profundas em nossos genes.
Apesar disso, quando enfiamos seres humanos em máquinas de ressonância magnética funcional que escrutinam seu cérebro enquanto leem um texto, verificamos que existem mecanismos corticais bastante especializados nessa atividade. São mais ou menos as mesmas áreas do cérebro que se iluminam em cada fase do processo, independentemente de quem leia o texto e de qual seja o sistema de escrita utilizado.
A conclusão é que, de alguma forma, conseguimos adaptar nosso cérebro de primatas para lidar com a escrita. Para Dehaene, operou aqui o fenômeno da reciclagem neuronal, pelo qual processos que surgiram para outras funções foram recrutados para a leitura. A coisa funcionou tão bem que nos tornamos capazes de ler com proficiência e rapidez, obtendo a façanha de absorver a linguagem através da visão, algo para o que nosso corpose mente não foram desenhados.
Antes de continuar, é preciso qualificar um pouco melhor esse "funcionou tão bem". É claro que funcionou, tanto que me comunico agora com você, leitor, através desse código especial. Mas, se você puxar pela memória, vai se lembrar de que teve de aprender a ler, um processo que, na maioria esmagadora dos casos, exigiu instrução formal e vários anos de treinamento até atingir a presente eficiência.
Enquanto a aquisição da linguagem oral ocorre, esta sim, naturalmente e sem esforço (basta jogar uma criança pequena numa comunidade linguística qualquer que ela "ganha" o idioma), a escrita/leitura precisa ser ensinada e praticada.
Estudos de neuroimagem conduzidos por Dehaene mostram que existe uma área na região occipitotemporal ventral do hemisfério esquerdo que se especializou em identificar caracteres da escrita, sejam eles alfabéticos ou ideográficos, como no caso do chinês. O neurocientista a batizou de "caixa de letras".
A partir daí as coisas só se complicam. O impulso visual é trabalhado por diversas populações de neurônios de forma paralela, ganhando cada vez mais invariância. Nós provavelmente percebemos as palavras a partir de pares de letras, percebidos por neurônios especializados que "gritam" à medida que são ativados. É literalmente um pandemônio neuronal.
Outras regiões do cérebro também entram na jogada. Enquanto o pandemônio ocorre, áreas ligadas ao processamento fonológico, ao córtex auditivo e motor, além, é claro, da cognição, que dá sentido aos signos, também são acionadas. Ler é integrar tudo isso através da criação de novas sinapses, que brotam criando avenidas entre as áreas relevantes do cérebro. Não é uma surpresa que exija bastante treino.
O esforço, porém, compensa. Adultos experientes utilizam ao mesmo tempo duas vias de leitura, a fonológica, que se guia pelos sons, e a léxica, que vai diretamente das letras para o sentido.
Já com crianças a coisa é um pouco diferente. De um modo geral, a neurociência ainda não é uma ciência madura o bastante para que dela possamos extrair prescrições para a vida prática. Os meios pelos quais os dados são obtidos ainda são muito grosseiros e a grande variabilidade individual sabota os esforços generalizantes. Mas o que já foi descoberto sobre a leitura é suficiente para afirmar com pouca margem a dúvidas que qualquer bom método de alfabetização precisa ensinar explicitamente o código fonológico. É só quando a criança o compreende e o domina que consegue ler, primeiro pela via sonora e, mais tarde, após gerar muitas sinapses, também pela léxica. É só aí que temos a impressão de ler "naturalmente".
Embora estejamos apenas tateando no conhecimento dos processos neurológicos envolvidos na leitura, Dehaene já expõe uma impressionante quantidade de dados e, melhor, uma teoria coerente para explicá-los. Provavelmente, muita coisa ainda vai mudar, mas o que temos já dá margem para "insights" valiosos, tanto para aperfeiçoar nossos métodos de alfabetização e tratamento de dislexias, como para especular sobre a natureza humana.
Aprender a ler modifica nosso cérebro. Gerar novas sinapses que integram áreas do cérebro que, no mundo pré-histórico, provavelmente quase não se falavam. Nós começamos desenvolvendo sistemas de escrita que se adaptavam a nosso cérebro, mas, uma vez que a mágica da leitura se disseminou, ela deixou suas marcas em nossas mentes. E marcas bastante profundas. Vários estudos mostram que o cérebro de pessoas que sabem ler funciona de forma diferente do de analfabetos. Especialmente a memória ganha muito com a alfabetização.
Embora a turma que cultue a decadência dos tempos não o admita, ao longo das últimas décadas, a inteligência média da humanidade, medida em termos de QI, aumentou bastante. É o chamado Efeito Flynn, que já foi testado e confirmado em 30 países. Se um humano mediano da década de 1910 (que, por definição tinha um QI de 100) fosse trazido para os dias de hoje, sua pontuação seria de apenas 70, no limite do retardo mental. Como os testes de QI são calibrados para que a mediana seja sempre 100, esses ganhos históricos não ficam tão evidentes.Uma possibilidade, totalmente especulativa e que avanço por minha conta e risco, é que a alfabetização em massa, que teve lugar no século 20, pode fazer parte do "blend" que está deixando os seres humanos mais espertos. Seria interessante uma análise estatística que procurasse elucidar esse mistério.
De toda maneira, mesmo que a leitura não tenha nos tornado mais inteligentes, é inegável que ela, através das ciências, imprimiu muito mais eficácia às nossas sociedades e, ao mesmo tempo, multiplicou nossas possibilidades de flertar com a transcendência, na forma de filosofia, poesia etc. Mais ainda, ela cria verdadeiras passagens intergeracionais, que integram a humanidade. É a escrita, como diz Dehaene, que nos permite conversar com os mortos com os nossos olhos.
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Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site da .
Há dias a propósito de uma partilha do José Francisco, de um pensamento budista: "Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a mover se em direção ao seu desejo".
Respondi-lhe :
Tudo é como dançar. Ninguém dança bem com os pés presos ao chão, nem em movimentos acabados. Mal poisam voltam a levantar para novo salto, nova figura, novo estilo. Nem chegam a poisar verdadeiramente, apenas tocam levemente, em novo impulso sem que o passo se chegue a concretizar. Cada passo vale pela preparação do seguinte. Ainda antes de ser alguma coisa, é já outra coisa qualquer.
Na altura faltou-me encontar a imagem que ilustrasse a ideia. Esta, hoje, pareceu-me bem.
Tudo começou com o medo de que estivesse deprimida.
E estar deprimida era não aceitar o que os outros achavam normal , era ser diferente e reagir de outra forma, ter olhos diferentes e leituras diferentes, diferenciadas,... mil e uma possíveis mas todas possíveis.
Nome completo, idade, profissão, razão...
Razão? A minha a dos outros,... razões. razão? Não sei. Uma sensação de diferença.
Vai tomar notas?
Que a traz cá?
Vai tomar notas? Não vale a pena. No fim, tudo lhe parecerá um rascunho e precisará de reler e reler. Não vai entender nada. Sei bem que não percebe nada de mim. Pois se nem eu percebo.
Não me venha com enquadramentos feitos...olhe não vale a pena, não tome notas:
Vou pagar-lhe as notas que vai tomar e nem à colher todos os dias, uma de manhã e outra ao deitar, o vão ajudar a perceber o que nem eu percebo:
O Sr Doutor sabe definir loucura? E diferença?
E já pensou o que será a imaginação?
Se eu pedisse ao senhor doutor que desenhasse a imaginação que desenhava? A mentira ou um pássaro? Pois é aí que está a diferença ....
Quando as crianças imaginam dizem que elas mentem. Se for um poeta,... são pássaros. Quando um adulto mente não é pássaro nem imaginação,... é mentira.
Eu pago a consulta ao sair, mas não tome notas nem às colheres... uma de manhã e outra à noite.
É assim que se cosem os textos pela tarde quente de trovoada
É a quebra dos sentidos e a mistura das ideias
O passar pelo sono numa fração de segundos e pensar que se está noutra dimensão, quem sabe de uma outra vida, tudo misturado, mais leve e mais criativo
Quando abres de repente os olhos num súbito sobressalto, ainda estás sentada na secretária mas nada tem que ver com o que te passava pelos olhos enquanto, numa fração de segundos, mergulhavas noutro espaço....
É isto que nos fazem as tardes quentes à espera de trovoada, com feriado lá fora e trabalho aqui dentro.
e não há ofensa para si ou para outros em abandoná-lo se é
isto que o seu coração diz a você…
Olhe para cada caminho, bem de perto, estudando-o
cuidadosamente. Experimente-o quantas vezes você
achar necessário. Então pergunte a você mesmo, e
somente a você mesmo uma questão …Esse
Caminho tem um coração?
Se ele tem, é um bom caminho; se não tem, é inútil.
(D. Juan, “brujo” Yaqui, orientador de Carlos Castaneda)
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Há um tempo de bifurcação em todas as vidas
Não para retroceder mas para decidir como ou para onde avançar
E estou certa que na parte final da nossa caminhada há uma parte dela que não sabemos como vai ser, mas até podemos intuir as várias formas de o ser, e temos de optar pela vereda mais "praserosa", mais florida, com mais sorrisos com mais livros, e mais música, e mais arte, com mais amigos e mãos dadas, mais viagens para fazer na descoberta do Todo e do Tudo.
A sensação é a de que não se fizeram todos os caminhos e de que, o que mais se caminhou não vai ficar completo.
Abandonamos o percurso antes do final porque já nada conseguimos terminar ou, já nada queremos ver
que nos mostre o fundo da rua da Vida
Há um tempo de bifurcação em todas as vidas,...
eu escolho a que tem mais Sol e mais descoberda e portanto, a que terá mais desconhecido.
Há uma nostalgia nas "pessoas antigas" que nos faz parar entre o que somos e o espaço de imaginar como seremos.
Há nas palavras que nos dizem um percurso feito a sonho realizado ou perdido,.... vá-se lá saber porque filosofia estranha.
Há as que acreditam que podem e realizam, as que realizam e as que genericamente acham que a realização não passa de uma ilusão bonita e enganadora, cheia de perguntas sobre de onde viemos, para onde vamos, o que somos....
Todas sonham,...todas querem, todas vivem para perceber o porquê deste percurso ou, vá-se lá saber porquê, apenas para o realizar.
Há um espaço de tempo misturado com um espaço de cadeira em que olhamos o teclado e pensamos que já não há forma de continuar.
Então chegamo-nos para trás e lemos 3 vezes as mesmas frases... e há uma dor que se enfia no ombro esquerdo e um peso de cristal de chumbo no olhar que teima em puxar as palpebras para dentro dos olhos...
É aquela hora em que ou passamos a fronteira...ou...vamos dormir.
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Mergulho os olhos ao fundo, no mar.
Tem arestas de prata e é tão profundo quanto a noite.
Tiro do papel os ultimos acordes de decisões necessárias, trabalhadas a ferro e fogo pela noite dentro.
Não há aragem porque fechei a janela... nem passos.
Há um fio ténue entre o acordar e o escrever.... Passei a fronteira. Escrevo.
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. És todo certeza, já não sabes sofrer. E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança. As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda. Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer. Chegou um tempo em que não adianta morrer. Chegou um tempo em que a vida é uma ordem. A vida apenas, sem mistificação.
Os desiludidos do amor estão desfechando tiros no peito. Do meu quarto ouço a fuzilaria. As amadas torcem-se de gozo. Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados, escreveram cartas explicativas, tomaram todas as providências para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada. Eu vou, tu ficas, mas nos veremos seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia dos desiludidos que se mataram. Que grandes corações eles possuíam. Vísceras imensas, tripas sentimentais e um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério levar os corpos dos desiludidos encaixotados competentemente (paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos, sem coração, sem tripas, sem amor. Única fortuna, os seus dentes de ouro não servirão de lastro financeiro e cobertos de terra perderão o brilho enquanto as amadas dançarão um samba bravo, violento, sobre a tumba deles.
Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais todas as coisas que na vida eu emprenhei. Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais, como as tais coisas nas quais nunca pensei.
Demais foram as sombras. Mais e mais. Cada vez mais ardentes as sombras que tirei do imenso mar de sol, sem praia ou cais, de onde parti sem saber por que embarquei.
Amei demais. Sempre demais. E o que dei está espalhado pelos sítios onde vais e pelos anos longos, longos, que passei
à procura de ti. De mim. De ninguém mais. E os milhares de versos que rasguei antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.
Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum' Joaquim Pessoa _ Abril 2023