Sexta-feira, 27 de Janeiro de 2017

A propósito de Trump

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"Paisagem de muros e de cães a ladrarem pelo céu
- propriedade azul
de todos os desgraçados.
...
Árvores escondidas
que o vento desenha em perfumes
no silêncio do sol.
...
Sebes de silvas e piteiras
ainda com o ódio primitivo
de quando o mundo
era um planeta de florestas e de pássaros,
e o homem um intruso,
um ser ilógico
sem raízes nem asas.
...
Hoje esse homem sou eu,
sem terra para pisar,
sem sombras para dormir,
sem frutos para comer,
sem flores para cheirar,
sem fontes para beber
- perseguido por todos os muros do mundo
numa paisagem de lagartixas.
...
Hoje esse homem sou eu.
...
O céu, ao menos, não tem muros.
E as aves não riscam fronteiras
nem põem vidros partidos nas nuvens."

José Gomes Ferreira

escrito no papiro por ACCB às 12:08
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Domingo, 22 de Janeiro de 2017

Choveu

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Choveu todo o santo dia. Choveu não copiosamente como quem chora ou como quem esquece o duche quente aberto.
Choveu teimosamente, insistentemente, de forma fina e constante, como uma agulha, sem vento, sempre em linha recta como um poema enorme e de leitura incansável.
Ainda chove, as luzinhas dos faróis salpicadas de gotas parecem pedrinhas preciosas, sonhos de Natal.
Mas é Janeiro e está frio. Não esteve muito frio durante o dia.... mas a noite promete arrefecer.
Reparei que já não há chapéus de chuva coloridos e daqueles que duram muito, que se levam ao Sr José da loja pequenina ao pé da Igreja ou se entregam num repente ao "amolador" que anuncia na rua que arranja tudo, chapes de chuva e respectivas varetas.
Isto de andar à chuva e sentir os pés quentes dentro das botas,as pernas quentes dentro das calças, as costas quentes dentro do impermeável, é uma aventura.... como quando se é criança e há lagos de água para saltar para dentro.
Choveu todo o dia. Devia haver uma forma de ver chover toda a noite.

 

 21.1.2016


____________José Luís Outono


Ainda no outro dia, vi um amolador...e o som típico do instrumento publicitário, que os anunciava.
São estes momentos, que nos fazem recuar e indagar, como vivemos com tão pouco e sorrimos tanto no viver. Questiono amiúde se a tecnologia ou a energia da pressa para ontem, são motivos de desenvolvimento?
Hoje, vi chover, e os pingos contavam histórias tão alegres, apesar do incómodo da chuva. Quantas vezes, não brincávamos entre o mar invernoso e a calma outonal, com os pingos de um chafariz, para simular uma frescura caminhante de sonhos.
Lembro-me da primeira chamada de um telemóvel...e perguntei, como é que isto leva e traz a voz. E a resposta estava tão perto, na rotação da terra, no anoitecer e no amanhecer e no viver calmo...e tudo acontecia. Hoje, ainda não percebi bem, como vivemos amanhã, com o prognóstico de ontem, e dizemos está tudo no computador. Por este andar, um dia vou receber uma SMS, quem sabe via chip cutâneo como cartão de cidadão, a recomendar - acaba o livro hoje, porque amanhã está tudo encerrado para balanço. Sorrio, olho para o pavimento molhado, o reflexo faz-me uma fotografia, e o pensamento codifica-a, no envio cibernético para uma enciclopédia de barras codificadoras do planeta ao lado.
NOTA: Hoje apeteceu-me recuar aos tempos desafiadores da palavra.

__________________Jorge Casaca

Mas cai. De noite a chuva cai. É mais difícil de a ver pontilhada pelos candeeiros da avenida. Mas sabe bem vê-la refletir nos charcos os faróis dos carros parados nos semáforos. Ouve-se. Aquela voz fininha da chuva ouve-se de noite, o algeroz avariado do terceiro andar, o andar molhado dos gatos.

_________________
Adelina Barradas de Oliveira

O Algeroz avariado do terceiro andar, o andar molhado dos gatos, os sapatos de salto alto tardios pela calçada, frios de uma noite solitária e fina como a chuva.
E ficam as janelas salpicadas como sons de cristal.... Se o vento não sopra é tão bom dormir escutando os cabelos da chuva.
Ouve-se tudo,... até a rua que escorre até à ribeira que já foi rio mas está sempre seco de Verão.

____________Jorge Casaca

É como aquele pingar de frio nos óculos a estrelar as luzes. O peso da água nos ombros que se vão molhando. Aquele cheiro da terra levantada gota a gota. De fora as pessoas passam escondidas em capas de cogumelos, sombrias como se fugissem.

________________Adelina  Barradas de Oliveira

Hoje não chove e o frio parece pingentes de cristal a cortar os dedos das mãos
Não vou à rua ou vou?
O relógio da torre da igreja continua a dar horas, são 9... Não vou ou vou? Está sol, vai derreter o frio.

__________Jorge Casaca

O sol aquece os vendedores da feira junto à Ria. Foi anteontem, foi anteontem mas podia ter sido no século passado, que os écrans dos televisores embranqueciam com a neve. Aquela que já não caía desde há tanto tempo que as pessoas pensavam que nunca acontecera. Foi ainda ontem que as pessoas se cumprimentavam com um «está tanto frio».
__________________

Adelina Barradas de Oliveira

Subiu a temperatura, poucos graus é verdade,  os dedos doem ainda como se fossem gelo. Às vezes parece que os deito no Martini e os provo. Congela-se a palavra.
Fica lá fora aquela luz cristal de sol de Inverno e uma vontade enorme de correr para o Mar.
Não há na que se interponha a não ser o chamamento do trabalho ao fim de semana.
 Não é justo. Com este frio até os papéis deviam congelar.

_______________
José Luís Outono
Ontem às 11:24 ·
HÁ "BOCAS" INFERNAIS.
Fui à farmácia comprar um medicamento (normal). A farmacêutica, muito gentil disse-me - Anote por favor como vai medicar-se. Deu-me um papel, emprestou-me a esferográfica e ditou...
Uma jovem "cinquentona", sem mais demoras exclama - Vê-se mesmo que é um velho. Não tem um telemóvel? Clique, ou dite para ele...já viu...está a empatar toda a gente, com a demora da escrita.
Olhei para ela, e disse-lhe em diálogo de olhar azedo, TUDO ... enquanto a farmacêutica lhe recomendava calma.
No regresso a casa, fui "buscar o filme", como realizava emissões de rádio, com discos de vinil e gravadores/reprodutores de fitas magnéticas, e até era permitido fumar nos estúdios (que horror).
De repente, um comentário ( a cabeça ainda funciona) que fiz a um excelente texto de Adelina Lininhacbo Barradas de Oliveira, neste dia 21 de Janeiro, mas do ano passado, assaltou-me a cabeça .
"Ainda no outro dia, vi um amolador...e ouvi o som típico do instrumento publicitário, que os anunciava.
São estes momentos, que nos fazem recuar e indagar, como vivemos com tão pouco e sorrimos tanto no viver. Questiono amiúde se a tecnologia ou a energia da pressa para ontem, são motivos de desenvolvimento?
Hoje, vi chover, e os pingos contavam histórias tão alegres, apesar do incómodo da chuva. Quantas vezes, não brincávamos entre o mar invernoso e a calma outonal, com os pingos de um chafariz, para simular uma frescura caminhante de sonhos.
Lembro-me da primeira chamada de um telemóvel...e perguntei, como é que isto leva e traz a voz. E a resposta estava tão perto, na rotação da terra, no anoitecer e no amanhecer e no viver calmo...e tudo acontecia. Hoje, ainda não percebi bem, como vivemos amanhã, com o prognóstico de ontem, e dizemos está tudo no computador. Por este andar, um dia vou receber uma SMS, quem sabe via chip cutâneo como cartão de cidadão, a recomendar - acaba o livro hoje, porque amanhã está tudo encerrado para balanço. Sorrio, e olho para o pavimento molhado. O reflexo faz-me uma fotografia, e o pensamento codifica-a, no envio cibernético para uma enciclopédia de barras codificadoras do planeta ao lado."
NOTA: Hoje apeteceu-me recuar aos tempos desafiadores da palavra.
JLO

escrito no papiro por ACCB às 14:35
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Terça-feira, 17 de Janeiro de 2017

Desiderata

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Vai serenamente por entre a agitação e a pressa e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente, mantém-te tanto quanto possível, em boas relações com todos.


Diz a tua verdade calma e claramente e escuta com atenção os outros mesmo que menos dotados e ignorantes; também eles têm a sua história.


Evita as pessoas barulhentas e agressivas; são mortificações para o espírito.


Se te comparas com os outros podes tornar-te presunçoso ou melancólico porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a ti.


Apraz-te com as tuas realizações tanto como com os teus planos.


Põe todo o interesse na tua carreira ainda que ela seja humilde; é um bem real nos destinos mutáveis do tempo.


Usa de prudência nos teus negócios porque o mundo está cheio de astúcia; mas que isto não te cegue a ponto de não veres virtude onde ela existe; muitas pessoas lutam por altos ideais e em todo o lado a vida está cheia de heroísmo.


Sê fiel a ti mesmo. Sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor porque, em face da aridez e do desencanto, ele é perene como a relva.


Toma amavelmente o conselho dos mais idosos, renunciando com graciosidade às ideias da juventude.
Educa a fortaleza de espírito para que te salvaguarde numa inesperada desdita.


Mas não te atormentes com fantasias. Muitos receios surgem da fadiga e da solidão.


Para além de uma disciplina salutar, sê gentil contigo mesmo.


Tu és filho do universo e, tal como as árvores e as estrelas, tens direito de o habitar. E quer isto seja ou não claro para ti, sem dúvida que o universo é – te disto revelador.


Portanto vive em paz com Deus seja qual for a ideia que d´Ele tiveres. E quaisquer que sejam as tuas lutas e aspirações, na ruidosa confusão da vida, conserva-te em paz com a tua alma.


Com toda a sua falsidade, escravidão e sonhos desfeitos o mundo é ainda maravilhoso.


Sê cauteloso. Luta para seres feliz.

Max Ehrmann,

escrito no papiro por ACCB às 00:18
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Segunda-feira, 9 de Janeiro de 2017

8 de janeiro 2014 9 Janeiro2017 Oh58m

 

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8 de janeiro de 2014 


Deixa-me que te escreva sem ser a sério... Quem sabe alguma coisa de jeito se há-de ler.
Eu sei que é apenas tentação de me perder entre palavras e portas entreabertas de pensamentos inacabados. Não há que resistir e, no entanto, tenho resistido tanto a este cair em frases e pensamentos, letras e aconchegos de ideias que ainda não existem, já existem,... mas não conheço...
Não que não tenha muito para escrever, tanto para questionar,... mas não é nada disso, nem daquilo que costumo escrever.

 

É um desvario de me perder no que nem sei onde pára,...onde começa ou onde existe.
Ideias loucas,...inquietação,... palavras soltas,... todas juntas num ficar-se longe para ficar tão perto.
Escrever por escrever...pode ser que se leia alguma coisa de jeito.
Inquietação,.. inquietação...
Ainda hoje,... ao lado do cinza bege do rio que corria pela margem logo ao virar do olhar, pensei quantas imagens trazia ele,...o rio...
Quantas histórias tinha para contar de tão veloz...para onde ía?...Como se a escrita fosse assim como uma maré...que não sabe onde é a foz mas vai... desvairada e tudo faz sentido ou não...Ou apenas começa a fazer sentido quando o caudal se olha ao longe e é só um... muitas margens e só um leito de água...
Não tinha barcos,... nem pontes o rio. O nevoeiro roubara a ponte como quem apaga o que acabámos de escrever...desassossego...
E o céu era da cor do caudal que abria o rumo de uma não sei que imaginada foz que nunca existiria... Inquietação...inquietação...

Não fora o nevoeiro roubar a ponte e eu sabia agora o que escrever.
Vou aquietar-me.... .

ACCB

escrito no papiro por ACCB às 00:58
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