Os amantes aparecem no verão, quando os amigos partiram para o sul à sua procura, deixando um lugar vago à mesa, um bilhete entalado na porta, as plantas, o canário, um beijo e um livro emprestado: a memória das suas biografias incompletas.
Os amigos desaparecem em agosto.
Consomem-nos as labaredas do sol e os amantes que chegam ao fim da tarde jantam e de manhã ajudam a regar as raízes das avencas que os amigos confiaram até setembro, quando regressam trazem saudades e um romance novo debaixo da língua.
Levam um beijo, os vasos, as gaiolas e os amantes deixam um lugar vago na memória, cabelos na almofada, uma carta, desculpas, e um livro de cabeceira que os amigos lêem, pacientes, ocupando o seu lugar à mesa.
MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA, in A CASA E O CHEIRO DOS LIVROS (Quetzal, 1996) para J.G.
"Tenho um decote pousado no vestido e não sei se voltas, mas as palavras estão prontas sobre os lábios como segredos imperfeitos ou gomos de água guardados para o verão. E, se de noite as repito em surdina, no silêncio do quarto, antes de adormecer, é como se de repente as aves tivessem chegado já ao sul e tu voltasses em busca desses antigos recados levados pelo tempo:
Vamos para casa? O sol adormece nos telhados ao domingo e há um intenso cheiro a linho derramado nas camas. Podemos virar os sonhos do avesso, dormir dentro da tarde e deixar que o tempo se ocupe dos gestos mais pequenos.
Vamos para casa. Deixei um livro partido ao meio no chão do quarto, estão sozinhos na caixa os retratos antigos do avô, havia as tuas mãos apertadas com força, aquela música que costumávamos ouvir no inverno. E eu quero rever as nuvens recortadas nas janelas vermelhas do crepúsculo; e quero ir outra vez para casa. Como das outras vezes.
Assim me faço ao sono, noite após noite, desfiando a lenta meada dos dias para descontar a espera. E, quando as crias afastarem finalmente as asas da quilha no seu primeiro voo, por certo estarei ainda aqui, mas poderei dizer que, pelo menos uma ou outra vez, já mandei os recados, já da minha boca ouvi estas palavras, voltes ou não voltes."
Maria do Rosário Pedreira
"Há uma mulher a morrer sentada
Uma planta depois de muito tempo
Dorme sossegadamente
Como cisne que se prepara
Para cantar
...
Ela está sentada à janela. Sei que nunca
Mais se levantará para abri-la
Porque está sentada do lado de fora
E nenhum de nós pode trazê-la para dentro
Ela é tão bonita ao relento
Inesgotável
É tão leve como um cisne em pensamento
E está sobre as águas
É um nenúfar, é um fluir já anterior
Ao tempo
Sei que não posso chamá-la das margens"
(Daniel Faria, "Dos Líquidos")
PORQUE: A voz é linda O arranjo musical também Por mais nada
"Un ataúd con ruedas es su cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
¡Ay qué terribles cinco de la tarde!
¡Eran las cinco en todos los relojes!
¡Eran las cinco en sombras de la tarde!"
( Do poema "La Cogida y la Muerte", em "Llanto por Ignacio Sánches Mejías")
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