Foi de relance que te apanhei o olhar. Perdia-se da amurada para o convés.
Por detrás a paisagem encantadora de uma noite de Verão que não sabia o que te faltava naquela viagem.
Mas sabia a objectiva que te captou o olhar... e que o fixou e o leu...
Podia ser lindo o mar, ou o rio, a margem ou a luz sobre a mesa do jantar... Até a ponte enquadrada na gravura e a mulher que ficava em frente apontando o anel num dedo falso...
Mas o teu olhar era triste...
Era tão triste e tão ausente...
Era tão triste e tão distante...
Do lado de cá da objectiva havia o sonho por realizar.
ACCB
E O FAROL NA BEIRA DA BARRA
Escultura de Bruno Catalano
Sai pela manhã com um risco de horizonte nos olhos.
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Deixa em casa os filhos de mochila às costas e escola nas mãos.
A mulher atira-lhe o ultimo beijo que, se não voltar, será o ultimo.
.Não pode deixar de ir porque tem a mesa dos filhos para pôr e qualquer coisa para comprar à Rosa . Qualquer coisa que ela achará valiosa só porque vinda dele, ela a tudo dá valor.
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Na estação aguarda o comboio. Espera que ninguém se suicide hoje porque está cansado das bocas do chefe quando chega tarde para a inauguração do dia que será duro.
Arregaça as mangas, não porque não esteja frio mas porque assim, o olhar se espraia no mar e pensa que o Verão virá breve.
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À beira da Barra um farol apaga-se pela madrugada todos os dias e volta a acender-se à noite, quando os miúdos já dormem, a Rosa fechou as pétalas e os pensamentos mergulham no Futuro.
Um Futuro que já não é seu mas que não sabe como deixará aos filhos.
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O comboio chega, ninguém se suicidou. Dá um toque nas mangas da camisa que um arrepio puxa para baixo.
Ao longe o horizonte banha-se de manhã.
.A Rosa já saiu para trabalho há muito...Lembra-se dos botões que ela lhe comprou, com a letra do Nome dele. Manuel usa-os quando os amigos se lembram de festejar sentimentos na Igreja.
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Depois do vidro da janela da carruagem há o mar,... há a liberdade do sonho. No fim da linha não há nada a não ser mais um dia de trabalho para poder pôr a mesa aos miúdos e oferecer o Mundo à Rosa, ainda que esse Mundo seja apenas o seu peito aberto ao Futuro.
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O mar corre ao lado, o dia fica para trás... O farol acende-se na noite e Manuel mergulha nos sonhos que dá aos filhos.
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Os filhos que um dia o olharão já adultos e lhe perguntarão se ainda usa os botões de punho quando os amigos festejam os sentimentos na Igreja e se ainda sonha quando o farol se acende lá em baixo, no fio do Horizonte, mesmo à beira da Barra.
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ACCB
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Saíra Santo António do convento
a dar o seu passeio costumado
e a decorar num tom rezado e lento
um cândido sermão sobre o pecado.
E andando andando sempre repetia o seu
o seu divino sermão piedoso e brando
e nem notou que a tarde escurecia
que vinha a noite plácida baixando
E andando andando achou-se num outeiro
com árvores e casas espalhadas
que ficava distante do mosteiro
uma légua das fartas, das puxadas.
Surpreendido por se ver tão longe
e fraco por haver andado tanto
sentou-se a descansar, o bom do monge
com a resignação de quem é santo.
O luar! um luar claríssimo nasceu
e num raio dessa linda claridade
o menino Jesus baixou do céu
e pôs-se a brincar com o capuz do frade
Perto, uma bica d'água sussurrante
juntava o seu murmúrio ao dos pinhais.
Um rouxinol ouvia-se distante,
o luar mais alto iluminava mais.
De braço dado para a fonte
vinha um par de noivos todo satisfeito.
Ela trazia ao ombro a cantarinha
Ele trazia o coração no peito.
Sem suspeitarem que alguém os visse
trocaram beijos ao luar tranquílo.
O menino porém ouviu e disse:
«Ó Frei António, o que foi aquilo?»
O Santo, erguendo a manga do burel
para tapar o noivo e a namorada
mentiu numa voz doce como o mel:
«Não sei que fosse, eu cá não ouvi nada.»
Uma risada límpida, sonora
vibrou em notas de oiro pelo caminho
«Ouviste, Frei António, ouviste agora?»
«Ouvi Senhor, ouvi... ah, eh ... é um passarinho!»
«Tu não estás com a cabeça boa.
Um passarinho! a cantar assim!»
E o pobre Santo António de Lisboa
calou-se embaraçado, mas por fim
corado como as vestes dos cardeais
achou esta saída redentora:
«Se o menino Jesus pergunta mais
faço queixa a sua Mãe, nossa Senhora.»
E voltando-lhe a carinha contra a luz
e contra aquele amor... sem casamento
pegou-lhe ao colo e acrescentou:
«Jesus, são horas... » e abalaram para o convento
"Acima de tudo precisamos de uma união política,
o que quer dizer que gradualmente temos que ceder competências à Europa e dar à Europa um maior controlo".
Totalmente de acordo se a senhora Merkel não estiver a intitular-se a Europa.
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/euro-2012=f731913#ixzz1xJvLh5vb
- Que achas? - perguntou-me.
- O que eu acho? Acho lindo.... tão bonito que não sei dizê-lo. Acho que há seres que nos arrancam de nós e isso é raro.
Acho que poucas têm a hipótese de viver esses flashes, esses momentos em que os duendes descem... e as fadas ditam as letras...
Acho que tenho lágrimas nos olhos.
ACCB
Mais um mimo. Desta vez de Quase nos 50 Retratos a Cores
Mencionar as 5 coisas que mais gosto de fazer
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onde o desejo respira devagar?
Fala, diz ainda a palavra
que faça do silêncio a casa
ou erga a coroa do lume
à altura do olhar.»
Eugénio de Andrade
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