Mais importante que qualquer prenda que te possam oferecer neste dia, mais importante que qualquer festa que te possam fazer neste dia, são os momentos que partilhaste com os que te amam que tornam tudo importante.
Os livros, os filmes vistos a dois ou em grupo, as gargalhadas sentidas e arrancadas à alma em desatino,... as palavras que te diremos porque te amamos.
Mais importante que qualquer presente será o presente que te deixamos para o futuro.
Há aprendizagens de vida que guardamos para sempre e acredita que dizer-te "Parabéns",quer dizer que te amamos e gostamos de ver feliz.
Bjs- pelas tuas 14 Vitórias que anunciam muitas mais .
Passeava-me pelos teus cabelos Em dedos lentos de carícia como num toque suave de dormir sempre gostei deles mais soltos e despenteados
Olhei o rio mais à frente os barcos faziam os riscos de viagem de cá para lá Como um lápis traça música no papel... distraída desenhava ondas nas notas do teu cabelo
Seguraste-me a mão e sorriste os teus lábios não tinham letras E, de súbito Tu puxaste-me para os teus olhos Acho que perdi os traços de sol na maré E mergulhei neles até à tua alma
Já estou outra vez sentado no banco frente à nossa casa, Amélia. Por aqui vou ficar, mesmo que adormeça tenho todo o tempo do mundo para esperar que me acenes à janela. Tal qual fazíamos quando tinhas 20 anos.
Nem imaginas o que te deixei hoje à porta. Continuas zangada comigo, mas um dia destes ainda te esqueces e voltamos a passear e...ntre as árvores do jardim da Estrela, para acabarmos a tarde a rezar um Pai Nosso na Basílica, antes da missa das seis, onde eu ia com a minha avó Lili quando tinha cinco anos. Isso fica para depois, ou para hoje, nem sei bem, mas tenho esperança que gostes do que te deixei à porta.
Trouxe-te iogurtes naturais da Ucal, uma lata de chocolate em pó Milo e um saco de açúcar amarelo. Sim senhora, é bem verdade. Olha que me custou muito a arranjar isso, mas como adoras pôr chocolate em pó nos iogurtes naturais e transbordá-los de seguida com açúcar amarelo, lá fui encontrar as três coisas naquela que acho que é a última mercearia da Baixa, ali mesmo antes de chegar ao Martim Moniz. Nem sei como ainda se mantém.
Mal entrei, o dono e eu começámos logo na conversa e dez segundos depois estava a dizer-me o nome – sabes como sou, sempre foi natural fazer as pessoas simpatizarem comigo. Bom, mas o senhor António diz-me que nem percebe como ainda ali consegue estar. É o último dos antigos. Tem de um lado uma repartição de um banco que aparece muito nas notícias e do outro uma loja de sapatos tão fina que nem nunca lhe conseguiu pronunciar bem o nome. Quer-me cá parecer que não tem muita clientela, mas já decidiu que não paga mais ao fisco e que há-de morrer ali, atrás do balcão. A cara dele ri-se toda ao contar que hão-de ser os funcionários das finanças a levar o corpo quando o coração resolver entupir de vez. “Olhe, que me penhorem o cadáver que talvez lhes valha uns cêntimos! Mas antes têm de o tirar de cima das caixas dos queijos frescos, da marmelada caseira e dos bacalhaus secos pendurados que conto agarrar quando me estiver a dar a última! Se Deus quiser isso não há-de falhar!”
O senhor António já está com 82 anos, Amélia. Não vá ele ir-se de repente, comprei três latas de Milo e três sacos de açúcar amarelo, assim guardo tudo e só tenho de te ir comprando os iogurtes. De qualquer forma, a pensão não chega para mais, se chegasse, corria as mercearias todas até à Praça do Areeiro e enchia-te a despensa de coisas boas, daquelas que tanto gostas, e pelo meio ainda te trazia uma flor que apanhasse na Alameda do Técnico, como fiz tantas vezes quando vínhamos dos comícios.
Sabes que não percebo nada do que se passa no nosso prédio, que agora é só teu, desde que te zangaste comigo. Acho que as campainhas não funcionam. Toco para toda a gente e ninguém responde. A luz da escada está fundida e cada vez os azulejos da entrada e a madeira dos degraus estão em pior estado. É uma maçada, até porque já vejo muito mal com pouca luz, embora, felizmente, tenha conseguido dar com a nossa porta e deixar-te o saco no tapete da entrada.
Quando é que me voltas a abrir a porta, Amélia? Se soubesses o quanto sinto a tua falta. Eu percebo, estás zangada. Sim, sim, já sei. Leva lá o teu tempo, minha querida. Nunca foste boa de assoar quando estás zangada. Ainda me lembro que nunca mais perdoaste a minha prima Teresa por não te ter visitado em São José quando tiveste a pneumonia. E eu nem nunca te consegui contar até ao fim que a pobre coitada sofreu um roubo de esticão, uns dias antes de seres internada, ficou traumatizada e não saiu à rua semanas. Cada vez que te tentava contar, lá vinhas com a história que nunca estava do teu lado nas injustiças. Logo eu, que sempre estive perto de ti, como agora, aqui estou outra vez, frente ao prédio, no banco de madeira verde, pintadinho de novo por ordem do senhor presidente da Câmara, que agora parece que se mudou para o Intendente, vá-se lá saber porquê.
Mas eu também sou teimoso e, como estou reformado, já nem preciso de picar o ponto na tipografia do Bairro Alto. Aliás, ninguém precisa, disseram-me que aquilo agora é um bar. Por isso, por aqui vou ficar. Frente ao nosso prédio, que é só teu, desde que te zangaste comigo. A propósito, já viste que estás um bocadinho como o senhor António da mercearia? Tens um hotel novinho de um lado e uma loja de óculos toda moderna do outro. Aquela, que é tão grande que até dizem que o Fernando da leitaria passou a casa por pouca massa aos fulanos oculistas, que também dizem que são espanhóis, mas custa-me a crer. É que se fossem tinham que ter escrito gafas nalgum lado, que eu lembro-me bem das excursões que fazíamos a Badajoz e eles escreviam assim óculos.
O certo é que não percebo mesmo nada do que se passa no nosso prédio, que agora é só teu, desde que te zangaste comigo.
Vê lá tu que um polícia, que me encontrou quando vinha de ter deixado os sacos à tua porta, voltou a dizer-me que não devia entrar ali, que um dia acontecia uma desgraça, que está tudo a cair, que já não mora lá ninguém e que te mudaste para o Alto de São João. Vê lá bem tanta macacada junta. Então tu ias agora mudar-te do 3ª esquerdo do 97 da Avenida da Liberdade, onde fomos tão felizes, para o Alto de São João?! Sozinha?! O homem não está bem, coitado, ainda por cima é moço para trinta e poucos anos. Mete dó. Até me disse que estava uma implosão marcada para o prédio, já no final do mês.
“Uma implosão?”, perguntei-lhe eu, que nunca tinha ouvido tal palavra. E ele, Amélia, disse-me que uma implosão é uma coisa que rebenta de fora para dentro sem fazer estragos à volta. Mais: Faz cair tudo direitinho. Eu cá fiquei a moer naquilo e estou aqui sentado no banco a moer, mas acho que cheguei a uma conclusão. Eu senti uma implosão quando te vi a primeira vez. Para te dizer a verdade, eu sinto uma implosão cada vez que te vejo, minha querida, Parece que rebento por dentro e vou caindo direitinho no teu perfume, no teu sorriso tímido, nos teus braços, nas tuas pernas tão bonitas e na memória dos teus abraços. Eu sei lá por onde vou caindo todo.
Uma coisa é certa, já estou outra vez sentado no banco frente à nossa casa, Amélia. Por aqui vou ficar, mesmo que adormeça tenho todo o tempo do mundo para esperar que me acenes à janela. Tal qual fazíamos quando tinhas 20 anos. Continuas zangada comigo, mas um dia destes ainda te esqueces e voltamos a passear entre as árvores do jardim da Estrela, para acabarmos a tarde a rezar um Pai Nosso na Basílica, antes da missa das seis, onde eu ia com a minha avó Lili quando tinha 5 anos.
pessoas correm na areia, areia azul como na casa da poesia. subito cai um tom avermelhado, cor de sangue,
dá gosto inventar, apenas porque, sabe bem ter areia vermelha como na praia do arco-íris, uma cor que não se vê de madrugada mas sim dentro de um riacho com peixes de aquários e lagos !
A Grande Esfinge do Egipto sonha por este papel dentro... Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente E ao canto do papel erguem-se as pirâmides... Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena Ser o perfil do rei Quéops... De repente paro... Escureceu tudo...
Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro E todo o Egipto me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro O som da minha pena a correr no papel... Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme, Varre tudo para o canto do tecto que fica por detrás de mim, E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito abertos, E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo E uma alegria de barcos embandeirados erra Numa diagonal difusa Entre mim e o que eu penso...