Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. Amén.
Natália Correia
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza,
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna,
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz.
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
Natália Correia, in "Inéditos (1985/1990)"
Lembras-te?
Foi por ti que reparei nas rosas...
Nunca lhes tinha olhado o toque suave das nervuras coloridas
Creio que nunca lhes sentira o toque húmido,
suave....quase etéreo das pétalas
...E o aroma? Foi por ti que o inalei...
Cada uma tem um óleo essencial
um toque de sândalo ou manhãs claras
aquelas em que acordamos com tintas de cristal
pela luz das paredes que
na noite anterior se encheram de Luar...
Foi por ti criei as rosas
como se elas nunca tivessem existido sobre a Terra
como se um pintor qualquer vindo do Oriente
lhes tivesse emprestado tonalidades únicas
em papel de arroz e
o pôr do Sol para se vestirem
e a manhã clara para se desnudarem
nas tuas mãos...
as mesmas mãos que me fizeram criar as rosas...
Dei-lhes olhar...
Nunca tinha reparado que tinham olhar....
Dei-lhes voz....
Nunca tinha escutado como murmuram melodias silenciosas
e fecham as pálpebras fingindo não ver
Foi por ti que lhes dei espinhos
O toque essencial para serem diferentes
e terem alma... a mesma alma que me fez criar as rosas
para ti......
Lininha Cbo
I
Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas,
folhas dormindo o silêncio
— a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das coisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
— Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
— E o poema faz-se contra a carne e o tempo.
[in Ofício Cantante — poesia completa, de Herberto Helder, pág. 28, Assírio & Alvim, 2009]
PAINEL
Ora uma noite de luar medonho
(Lembro-me disto como de um sonho)
Alevantou-se um Homem a meu lado,
Todo nu, e desfigurado.
Mal me atrevendo a olhá-lo, eu quase só adivinhava
Seu corpo devastado que sangrava…
E uma lembrança, longe, longe, havia em mim
De já o ter amado, ou outro assim.
Seu rosto, que, decerto, era sereno e puro,
Resplandecia, como um mármore, no escuro;
E as suas lágrimas, rolando devagar,
Deixavam rastos que faziam luar…
Eu prosseguia, todo trémulo e confuso,
Cheio de amor e de terror por esse intruso.
À minha mão direita, ele avançava aereamente,
Com seu ar espectral e transcendente…
Os seus pés nem pousavam no caminho;
E então, eu desatei a soluçar baixinho,
Porque notara que em seu rosto exangue
As suas lágrimas corriam misturadas com o sangue.
Oh, onde a vira eu, essa figura peregrina
Feita de terra humana e de ascensão divina?
Sim, onde a vira eu, que, só de o perguntar,
Me arrepiava, com vertigens de ajoelhar?
Mas, de repente, como um sobressalto,
E como a angústia de quem rola muito de alto,
Alguma coisa em mim passou, que pressentia,
E que se arrepelava, e que tremia…
É que em meu ombro esquerdo "alguém" se debruçava,
Alguém que ria um riso que espantava,
Um riso tenebroso, e cheio de atracção,
Com fogo dentro como a boca de um vulcão!
E sem o ver, eu vi-o, todo inteiro,
Essoutro novo e inseparável companheiro:
Um que também conheço, nem sei donde nem de quando,
Por mais que me torture procurando…
E tinha pés de cabra, e tinha chifres, tinha pêlos,
E tinha olhos sulfúricos, esfíngicos e belos…
A baba do seu riso escorregava-lhe da boca,
E em todo ele ardia uma lascívia louca!
À minha mão direita, absorto aéreo, hirto,
Coroado de abrolhos e de mirto,
O Outro continuava a chorar lágrimas caladas,
Com as mãos lassas como rosas desfloradas…
Entre os dois, eu sentia-me pequeno e miserando,
Vibrando todo, tumultuando, soluçando,
Com olhos meigos, lábios torpes – indeciso
Entre um inferno e um paraíso!
Um riso doido e cínico, sem regra,
Subia em mim como uma onda negra,
E estrelados de lágrimas, meus olhos inocentes
Ajoelhavam como penitentes…
Entretanto os dois vultos desmedidos
Iam crescendo entre os meus risos e gemidos,
Crescendo sempre, sempre e tanto, que, depois,
Eu ficava esmagado entre eles dois.
A noite em que isto foi, não sei…, sei lá?... (Seria
Essa em que minha Mãe, com tanta angústia, me paria…)
Sei que o luar era medonho, era amarelo,
E que tudo isto me parece um pesadelo!
José Régio
"Fico perfeitamente siderado quando vejo constitucionalistas a dizer que não há qualquer problema constitucional em decretar uma redução de
salários na função pública.
Obviamente que o facto de muitos dos visados por essa medida ficarem insolventes e, como se viu na Roménia, até ocorrerem suicídios, é apenas
um pormenor sem importância.
De facto, nessa perspectiva a Constituição tudo permite.
É perfeitamente constitucional confiscar sem indemnização os rendimentos das pessoas.
É igualmente constitucional o Estado decretar unilateralmente a extinção das suas obrigações apenas em relação a alguns dos seus credores,
escolhendo naturalmente os mais frágeis.
E finalmente é constitucional que as necessidades financeiras do Estado sejam cobertas aumentando os encargos apenas sobre uma categoria
de cidadãos.
Tudo isto é de uma constitucionalidade cristalina.
Resta acrescentar apenas que provavelmente se estará a falar, não da Constituição Portuguesa, mas da Constituição da Coreia do Norte.
É por isso que neste momento tenho vontade de recordar Marcello Caetano, não apenas o último Presidente do Conselho do Estado Novo, mas também o prestigiado fundador da escola de Direito Público de Lisboa.
No seu Manual de Direito Administrativo, II, 1980, p. 759, deixou escrito que uma redução de vencimentos "importaria para o funcionário
uma degradação ou baixa de posto que só se concebe como grave sanção penal".
Bem pode assim a Constituição de 1976 proclamar no seu preâmbulo que "o Movimento das Forças Armadas [...) derrubou o regime fascista".
Na perspectiva de alguns constitucionalistas, acabou por consagrar um regime constitucional que permite livremente atentar contra os direitos
das pessoas de uma forma que repugnaria até ao último Presidente do Estado Novo.
Diz o povo que "atrás de mim virá quem de mim bom fará". Se no sítio onde estiver, Marcello Caetano pudesse olhar para o estado a que deixaram chegar o regime constitucional que o substituiu, não deixaria de rir a bom rir com a situação."
"Perderei a minha utilidade no dia em que abafar a voz da consciência em mim"
Mahatma Gandhi
Prof. Luis Menezes Leitão, da Faculdade de Direito de Lisboa
(click aqui)
No princípio do mundo o céu e a terra separaram-se e entre eles surgiu o 'Takama-no Hara' (Terra dos Deuses), e ali nasceram diversas divindades que passaram a habitar o território sagrado.
A terra ainda não estava solidificada mais parecia-se a um pantanal de lodo, onde cresciam arbustos e ervas daninhas. E em meio a tudo isso, nasceram outros deuses e entre eles o casal 'Izanagui e Izanami', criadores do arquipélago japonês.
Certo dia, Amatsugami (Deus do Céu) deu a 'Izanagui' uma arma enfeitada e confiou-lhe a tarefa de criar o Japão. Então, 'Izanagui' e sua esposa 'Izanami' dirigiram-se para a 'Ponte do Céu' e no meio dela pararam para observar a terra viscosa lá em baixo.
Logo Izanagui esticou o braço e enfiou sua arma sagrada dentro da lama remexendo-a. Quando retirou a arma caíram algumas gotas de lama da ponta, que logo cristalizaram-se em sal e por sua vez transformaram-se em uma ilha.
Vendo a ilha que acabaram de criar, 'Izanagui' e sua esposa 'Izanami' atravessaram a 'Ponte do Céu' e desceram aqui para a terra, onde fizeram um acordo entre si para criar novas ilhas, dando assim origem ao arquipélago japonês.
"I screamed, and my host parents woke up and they thought it was really bad," Kosaka said. "They asked what happened. And I said, 'They survived! ... I couldn't believe it. It's a miracle."
Um dia em Hiroshima alguém tirou uma foto que correu Mundo
Hoje de Novo a Realidade brutal de um País corre de novo Mundo
Embora eu pertença ao grupo... dos ciespone (cidadãos especializados em porra nenhuma)
Sempre gostei das orquídeas. Não foi por serem uma flor que aparece praticamente em todos os continentes, nem por serem da espécie que possibilita a produção da baunilha, mas por se assemelharem à cor da memória.
Embora eu pertença ao grupo... dos ciespone (cidadãos especializados em porra nenhuma), gosto de me deixar perder em conversas difusas. E, enquanto a minha mulher entoava, como faz todas as terças-feiras, os velhos cânticos dos antigos orfeonistas do Porto, (na ex-faculdade de engenharia e, agora, faculdade de direito), entabulei, com um velho amigo, uma conversa sobre a memória da água.
Todos sabemos que a água corre em nós de modo diferente de um rio. Corre em cristais que fixam vigílias, silêncios, brisas e sonhos; perambulam sobre lugares de despedidas, olhares infiéis e velas que no mar azul se erguem para segurar pássaros e sonhos. E as orquídeas têm as cores dos perfumes que alimentam essa memória da água.
Obrigado, por não ficar esta noite a suportar a pesada mortalha do tempo. Hoje, terça-feira, posso entregar-me ao Morfeu com orquídeas e adormecer com as cores da memória da água que ainda passa por mim. Fico muito agradecido. Sei que durmo entregue aos celestiais seres que na vida fizeram amores, paixões e até ciúmes, uma espécie de paixão ao avesso.
João Baptista Vasconcelos Magalhaes
( foto - ACCB - Grécia )
Days of Kindness
Greece is a good place
To look at the moon, isn´t it
...You can read by moonlight
You can read on the terrace
You can see a face
As you saw it when you were young
There was good light then
Oil lamps and candles
And those little flames
That floated on a cork in olive oil
What I loved in my old life
I haven´t forgotten
It lives in my spine
Marianne and the child
The days of kindness
It rises in my spine
And it manifests as tears
I pray that a loving memory
Exists for them too
The precious ones I overthrew
For an education in the world
Hydra, 1985
[Leonard Cohen]
Não sei porquê mas gosto que a minha janela acorde mesmo em cima da minha cama.
Se abro os olhos e ela lá está com um sorriso de Sol, são horas de me levantar. É como se me trouxesse o pequeno almoço e dissesse :
- BOM DIA! O dia tem 28 horas e 24 delas são ao Sol.
Entra tudo por ela, os pássaros lá fora e as crianças que gritam sem dizer nada nos passos apressados para a escola. Pela luz que entra pela janela vejo que levam sorrisos largos e mãos gesticulantes, sonhos de manhãs que acabam no recreio e horas no bolso do casaco.
Se a minha janela acorda mesmo em cima da minha cama, rapidamente salpico um sorriso no rosto e tenho canções na ideia, a agenda abre-se enquanto tomo o pequeno almoço e,o café na esplanada, lá pelo meio da metade do dia, ali ao Sol sobre os pés e as pernas,não ficará esquecido.
Se a minha janela acorda sentada na minha cama, é certo e sabido que não deixa de me olhar todo o dia e, mesmo quando a Lua entra por ela, há a esperança de que amanhã pela manhã, ela lá esteja de novo sorrindo à espera que eu acorde.
Gosto de acordar com a minha janela sentada na minha cama.
ACCB
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MOVIMENTO DE INTERVENÇÃO E CIDADANIA
Diga não à erotização infantil
Há sempre um livro à nossa espera
Musicas aviação e outras tretas
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Ré em Causa Própria ( Também ando por aqui )
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