EXCELENTE VOZ - GOSTO DA MÚSICA- GOSTO DA LETRA
Eu aguardei com lágrimas e o vento
suavizando o meu instinto aberto
no fumo do cigarro ou na alegria das aves
o surgimento anónimo
no grande cais da vida
desse navio nocturno
que me trazia aquela com lábios evidentes
e possuindo um perfil indubitável,
mulher com dedos religiosos
e braços espirituais...
Aquela mulher-pirâmide
com chamas pelo corpo
e gritos silenciosos nas pupilas.
Amante que não veio como a noite prometera
numa suspensa nuvem acordar
meu coração de carne e alguma cinza...
Amante que ficou não sei aonde
a castigar meus dias involúveis
ou a afogar meu sexo na caveira
deste carnal desespero!...
António Salvado, in "A Flor e a Noite"
_______________________________________________
O céu colabora na nossa vida íntima, vive connosco, acompanha-nos na mudança do nosso ser; é um confidente, é um consolador; invoca-se, fala-se-lhe. Olhar o céu é, nos nossos climas, uma ocasião de viver: instintivamente, voltamos para ele os nossos olhos. O poeta meridional, cheio de imagens e de cores, contempla-o; o burguês trivial, admira-o; pela manhã, abre-se a janela e vai-se ver o céu! É um íntimo sempre presente na nossa vida; o nosso estado depende dele: enevoado, entristece-nos; claro e lúcido, alegra-nos; cheio de nuvens eléctricas, enerva-nos. É no Céu que vemos Deus... E mesmo despovoado de deuses, é ainda para o homem o lugar donde ele tira força, consolação e esperança. A paisagem é feita por ele, a arte imita-o, os poetas cantam-no.
--------------------------
Eça de Queirós, in 'O Egipto'
TRRIIIMM… TRRIIIMM... TRRIIIMM...
Responde o atendedor de chamadas:
"Obrigado por ter ligado para o Júlio de Matos, a companhia mais adequada aos seus momentos de maior loucura."
* Se é obsessivo-compulsivo, marque repetidamente o 1;
*Se é co-dependente, peça a alguém que marque o 2 por si;
* Se tem múltipla personalidade, marque o 3, 4, 5 e 6;
* Se é paranóico, nós sabemos quem é você, o que você faz e o que quer. Aguarde em linha enquanto localizamos a sua chamada;
* Se sofre de alucinações, marque o 7 nesse telefone colorido gigante que você, e só você, vê à sua direita;
* Se é esquizofrénico, oiça com atenção, e uma voz interior indicará o número a marcar;
* Se é depressivo, não interessa que número marque. Nada o vai tirar dessa sua lamentável situação;
* Porém, se VOCÊ votou Sócrates, não há solução, desligue e espere até 2013
Aqui atendemos LOUCOS e não INGÉNUOS! Obrigado!
____________________________________
Boa semana! Está Sol.E eu "tô nem aí" para dias,
pensamentos e gente cinzenta :)
Ele há para aí cada palhaço! Cada caderno de loucura ! Cada estória aldrabada e enviesada que me tolda o espirito e a mente.
Por outro lado demonstram muita imaginação e arte.
Do tipo da mãe que sabe a filha que tem e lhe aconselha:- Chama-lhe a ela antes que te chamem a ti...
Ele há para aí cada palhaço!
Nunca pensei vir a pensar de alguém, o que dizem que chamam a um polícia quando confrontados com um.
Palhaço!
E não é que alivia?!
--------------
Quantos reparam que está lua cheia no céu,
uma lua reconciliadora, portentosa,
quente como o tempo quente,
não a lua inquietante, soturna,
mas a lua reconfortante,
lua de dias grandes e de esperança em anos maiores
uma lua de laranjas que é o fogo a arder-nos na alma em azul?
JAB
-------------------------
"Há esperanças que é loucura ter.
Pois eu digo-te que se não fossem essas, já eu teria desistido da vida."
José Saramago em 'Ensaio Sobre a Cegueira'
Mas só porque vieste fez-se tarde,
Ou é a vida que nasce já tardia
Como uma estrela que se acende e arde
Porque não cabe na rapidez do dia?
Natália Correia
Uma Virgula na Vida de Saramago
Há homens cujas vidas não têm ponto final.
Homens que trazem nas mãos uma fonte que transborda em letras, palavras, ideias, que nascem na alma.
Homens livres e libertos, sós e sempre acompanhados pela inquietante certeza de que, nada é certo, e tudo tem de mudar.
São homens que transportam mundos e os vão desenhando no papel, e com eles fazem livros.
Há homens que existem há uma eternidade e viverão até à eternidade. Que sabem o sabor do vento ou o som do arco iris.
Há homens que não se dão, não se dobram, não se ajustam, simplesmente são.
Não têm lutas porque a sua vida é toda uma luta de espantos e barreiras.
Fazem da caneta a arma ao ponto certo e, vão rasgando a vontade em rumos individuais e incertos.
Há homens que escrevem sem vírgulas e sem pontos finais, não fazem parágrafos nem colocam travessões...escrevem...
Vivem e morrem como escrevem,...sem finais,...sem parágrafos,...sem travessões.
ACCB
( Dia da morte de José Saramago - escritor Português- Prémio Nobel da Literatura)
_________________________________________________
Noutro lugar, não aqui, uma mulher poderia trocar
algo entre o belo e lugar nenhum, de regresso ali
e aqui, poderia fazer progressos na sua
agitada vida, mas eu tentei imaginar um mar que não
sangrasse, um olhar de rapariga cheio como um verso, uma mulher
a envelhecer e sem chorar nunca ao som de um rádio a sibilar
o homicídio de um rapaz negro. Tentei que a minha garganta
gorjeasse como a de uma ave. Escutei o duro
bisbilhotar de raça que habita esta estrada. Mesmo nisto
tentei murmurar lama e plumas e sentar-me tranquilamente
nesta folhagem de ossos e chuva. Mastiguei algumas
folhas votivas aqui, o seu sabor já a desencantar
as minhas mães. Tentei escrever isto calmamente
mesmo quando as linhas ardem até ao fim. Acabei por aprender
algo simples. Cada frase imaginada ou
sonhada salta como uma pulsação com história e toma
partido. O que eu digo em qualquer língua é dito com perfeito
conhecimento da pele, em embriaguez e pranto,
dito como uma mulher sem fósforos e mecha, não em
palavras e em palavras e em palavras decoradas,
contadas em segredo e sem ser em segredo, e escuta, não
se extingue nem desaparece e é abundante e impiedoso e ama.
dionne brand
Olhos gastos, das notas de rodapé, das insónias, das noites perdidas, das viagens sem descanso, das esperas caladas, do fio do horizonte, dos prados que secam, das lonjuras, das perplexidades, das flores que morrem, dos amores que se perdem, das vidas adiadas...
Coutinho Ribeiro
_____________
Tenho os olhos gastos meu amor
Gastos das noites acordadas pelas memórias
que me ficaram de ti e de nós...
A luz cansada do meu quarto...
gasta-me os olhos
na procura do teu rosto
Talvez dos contornos do teu corpo
Tenho os olhos gastos meu amor....
De tentar descobrir a razão da tua ausência
A causa do meu afastamento.
Tão gastos meu amor
que nem a chuva que bate lá fora nos vidros cansados de esperar
Lava a dor que a tua falta lhes deixou
Tão gastos meu amor
Que me perco na solidão dos adiamentos
na perplexidade de não te poder olhar.
Lininhacbo
_____________
Gastei os olhos pelo nada, que afinal era o que havia, tudo o mais foi inventado. Por mim. Até o rosto e os contornos do corpo, até o cinzel com que te desbravei as arestas. Sim, meu amor, aventura de guerreiro que vinha da solidão, perdido nessa sua solidão, em delírios azuis. Ausência? Não, nunca a tua ausência me gastou os olhos. Não é ausente o que não houve. gastei os olhos no nada.
Coutinho Ribeiro
________________
Tenho os olhos gastos, meu amor....
Cansaram-se de tanto caminhar nas linhas das cartas que escreveste. Sabes, guardo-as todas.
Até ao mais pequeno bilhete, daqueles que deixavas na mesa da cozinha ao lado da caneca do café para eu ler quando acordava e tu já não estavas.
Tenho saudades das tuas cartas, meu amor.
De sentir a poesia da tua escrita e de imaginar os teus dedos a
navegar as folhas de papel com a mesma ternura que afagavas os meus cabelos e a linha do meu pescoço.
Perdemos a poesia, amor.
Deixámos-nos envolver no turbilhão e perdemo-nos.
Perdi-me.
E perdi-te.
Gastei os olhos também aí e as palavras.
Essas guardo-as agora no fundo dos meus olhos cansados na espera permanente de te ter de volta.
Eva Garcia
_______________________
"Tenho os olhos gastos… de procurar por ti…
De procurar pelos meus sonhos
Aqueles meus sonhos de menina…
Encontrei-os por fim, naquele cruzamento de vida onde te conheci…
Jaziam lá… inertes, sem vida, e eu sem saber…
Ainda não tive coragem de os enterrar…
estão ali, varridos num canto de mim, à espera que faça o seu luto.
Faltam-me as forças…
Nos olhos, nas mãos, no peito…
Faltam-me as forças para te dizer…
Que tenho os olhos gastos, meu anjo;
Gastos de te esperar no meu futuro.
( Amiga identificada :-) )
__________________
Sonhei teus olhos d'empréstimo
que meus são gastos. Traziam
o tom dos prados
em cristal de mar
(saltitam como aves de voar)...
e sem o traço de medo:
só o segredo
de onde pára o arco-iris.
Pela manhã restam os meus
(cansados e ateus)
que já só respiram
cinzento
na ajuda da noite.
(AM)
_________________________
"...a distância do nosso amor fica na distância do nosso olhar, na distância do nosso toque, na distância das gotas de suor dos nosso corpos quando fazem amor... a distância do nosso amor fica na distância do teu respirar junto ao meu peito ou no beijo que deposito nos teus lábios... a distância do nosso amor fica na ânsia de nos voltarmos a encontrar e sentirmos que amar não é só ser e estar mas também o desespero do ter de ir e não poder ficar... a distância do nosso amor fica na distância dos dedos quando se entrelaçam e os corpos se abraçam e ao som de uma doce melodia, os corpos juntos num só, levemente sobre si mesmo rodopia... a distância do nosso amor fica na distância das pequenas distâncias dos pequenos nadas a que damos tanta importância... a distância do nosso amor fica apenas a um simples passo da nossa própria distância..."
Lobices
_____________
Tenho os olhos gastos pela tua ausência. Gastos de serem abertos no escuro. De esperarem despertos pela tua descida à terra. De percorrerem a memória do teu rosto sem uma imagem fixa que os console. Tenho os olhos gastos, como vastos os teus afluentes me irrigam. Tenho só os olhos teus, e me bastam.
Porfírio
__________
No Fio do horizonte, entre lapides, encontramos o silencio.
Para lá dos muros, vislumbramos a vida.
Para lá dos muros não havia paragem.
As viagens fizeram se sem descanso.
Procurava mos, na insónia, os corpos das noites perdidas....
Os corpos que secaram, como prados, na nossa memória.
As palavras procuravam realizar as vidas adiadas,
As Palavras desenhavam, em paginas brancas, os amores que se perdem.
No fio do horizonte,
para lá dos muros,
em viagens pelos corpos que secam,
adiavamos a vida
em palavras que se perdem.
E aqui sob a terra, o corpo descansa,
em espera calada, nos dias que se sucedem,
por uma mão.
A tua mão.
A mão que deixou saudosas flores.
Flores que morrem, há muito, sobre nós
Afinal somos apenas uma nota de rodapé,
de uma vida adiada, no amor que se perdeu,
na lonjura do horizonte, para lá dos muros.
E para sempre,
no fio do horizonte,
descanso
meus olhos gastos
Pedro Cabeça
___________________
As palavras...secam-se
E os mares inundam o meu sentir
Neste balbuciar diálogo maresia e alma.
Descanso apenas na poeira do olhar...
E bebo um pouco das minhas lágrimas
Nesta sede de não ouvir-te...
Hoje...talvez tenha vivido para lá do eu
Amanhã...quem sabe o sol, tardará em acordar
E a cabeça será um nó de dúvidas soltas...imensas!
Escrevo-te...em tinta invisível...
Como a transparência deste amar estúpido
Mas fiel de abraços ...
Logo...mais logo...direi apenas
Conhecer-te...no restante do amor
Que deixaste...naquela gota de chuva...
Ainda enleio...ou carícia da tempestade
Nuvem opaca e vento traição
Ah! e esboças sorrir deste apelar...
Entende...mesmo que não entendas
Que amar é o outro lado da montanha
Chamada "felicidade"...familiar do rio esperança!
by OUTONO - in MOMENTOS - 2008
__________________________________________
Com um grande obrigada e um grande abraço a todos os que aceitaram o desafio
e gostam de escrever, por escrever
e de sentir, porque sim .
ACCB
-
NÃO HÁ VAGAS
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira
Ferreira Gullar
Ferreira Gullar - Prémio Camões
Morremo-nos aos poucos no tempo que não passa e no entanto, já ficou lá para trás.
Paramos na amizade perdida ou, na recordação da conversa amiga, à mesa de café, que nos confortava a alma e fazia gargalhar o olhar.
Partilhas de mulheres, que só as verdadeiras sabem ter e guardar entre elas, como um tesouro que não se dá, não se mostra, nem se deixa adivinhar para mais ninguém.
Pode até toda a gente sabê-lo, mas é tão secreto que nem se lhe sussurram as sílabas ou os decibéis.
Saudades....faltas....
Coisas boas da vida que deixamos pelo caminho ou, estão apenas cristalizadas no tempo.
Pode ser que assim seja, porque a amizade não finda, pode permanecer intacta uma eternidade, ainda que não pareça.
ACCB
O Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
E a orla branca foi de ilha em continente,
Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo.
Quem te sagrou criou-te português,
Do mar e nós em ti nos deu sinal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal.
Fernando Pessoa
O que torna as rosas diferentes,
não é a delicadeza das pétalas, nem o perfume da corola,
são os espinhos.
ACCB
-
--------
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
MOVIMENTO DE INTERVENÇÃO E CIDADANIA
Diga não à erotização infantil
Há sempre um livro à nossa espera
Musicas aviação e outras tretas
Olhar Direito ( Ando Por Aqui)
Porto Croft ( Muito prazer por andar por aqui)
PSICOLOGIA CENTRAL de psicologia
Ré em Causa Própria ( Também ando por aqui )
Porosidade etérea ( sobre Poesia)
_______________________
Presidente da Comissão Europeia
Media, Strategy and Intelligence